Hezbollah – um Partido de Deus?

Prof.Lejeune Mirhan - 08-07-2021 884 Visualizações

Em meio ao conflito israelo-palestino, que vem se agravando nos últimos dias, chama à atenção a atuação dos Partidos islâmicos, que tem como base ideológica e defesa da implantação de um Estado Muçulmano, cuja única fonte de orientação, poder e legislação seriam o Al Corão. Destacam-se a Jihad Islâmica, o Hamas e o Hezbollah.

            De todos esses, indiscutivelmente, o mais antigo, mais articulado e bem organizado é o Hezbollah, cujo líder político e espiritual é o sheik árabe (libanês) Nasrallah. Esse Partido, que em árabe quer dizer Partido de Deus (Huzb – Partido e Allah – Deus) é o mais antigo de todos eles. Os demais, atuam em território palestino e foram criados a partir da primeira Intifada (1991 a 1993).

            O Hezbollah foi fundado há 20 anos no Líbano e para resistir exatamente à ocupação israelense da faixa de terras do sul desse país, onde existem dezenas de acampamentos de refugiados palestinos. Surge sob inspiração da revolução iraniana, cujo líder maior, Aiatoláh Rurrolah Khomeini, em 1982 estava no poder há apenas três anos, mas já irradiava ao mundo a sua revolução islâmica.

            Entre 1982 e 2000, ou seja, por 18 anos, esse Partido deu sistemático combate ao exército israelense, que acabou por desocupar – ainda que não integralmente – uma faixa de terra de 30 quilômetros concluída em 2000 (ocupa ainda fazendas em uma pequena região denominada Shebaa, próximo das famosas e estratégicas Colinas do Golãn.

            A base social de atuação desse grupo é grande. São palestinos e libaneses, a grande maioria vivendo em condições de dificuldades nos acampamentos. Mas o Hezbollah age também na área de assistência social, prestando ajuda humanitária aos filhos dos seus guerrilheiros mortos em combates, às viúvas etc. Agem em ações educacionais e de saúde, possuem postos de assistência médica, prestando serviços em geral às populações carentes, onde o braço do Estado libanês não chega.

            São fundamentalistas no sentido de se apegarem aos “fundamentos” das propostas do profeta Mohamed (Maomé) e dos postulados do Corão. Possuem ainda forte apoio de grupos iranianos e sírios. Registre-se que o grupo que domina a presidência do Irã (Ali Khamenei), tem orientação mais moderada que seus antecessores (Ali Hafsanjani, mais fundamentalista).

            O Partido é legalizado no Líbano, possui deputados atuando no parlamento, organiza manifestações de massa em todo o país principalmente Beirute e tem influência na juventude e nos sindicatos. Desencadeou nos últimos dias uma série de ações armadas no sul do Líbano, em bombardeio às forças israelenses, usando ainda os mísseis katiuchas (ainda de fabricação soviética), que infringem baixas no exército sionista. Isso tem feito Israel convocar reservistas e deslocar tropas e reforçar sua presença militar nessa região. Taticamente falando, isso minimizaria o foco das atenções militares nas cidades palestinas ocupadas neste momento e que se anuncia certa retirada simbólica das tropas em função da presença de Collin Powell na Palestina.

            Pode-se dizer, de um modo geral, que o Hezbollah é um Partido que defende a causa palestina e o seu Estado nacional. Não tem apoiado a liderança de Arafat desde a OLP e mesmo depois dos Acordos de Oslo. São rejeicionistas, ou seja, não apóiam nenhuma proposta de paz vinda da Liga Árabe, ao qual consideram moderados, do Conselho de Segurança da ONU e dos EUA. No entanto, cumprem importante papel de resistência em diversas operações nestes 20 anos que não pode ser desconsiderada.

            Diversas operações contra instalações americanas em Beirute, em especial sua embaixada e seus anexos, foram alvos de atentados atribuídos ao Hezbollah em 1983 e 1984. A operação contra a embaixada de Israel em Buenos Aires em 1992 e no Centro Cultural Judeu em 2000 na mesma cidade são atribuídas ao grupo.