Memória eterna à Márcio Caiado

Prof.Lejeune Mirhan - 22-03-2021 4203 Visualizações

Já não há mais neste país quem não tenha perdido um amigo, uma pessoa amada, um parente para essa doença chamada Covid-19, que a cada dia, mais se dissemina no país pela pandemia e pela inépcia de um governo genocida.

Pois hoje, nesta madrugada, após lutar pela sua vida por trinta longos dias na UTI, aqui em nossa cidade de Campinas, veio a falecer o amigo e camarada comunista Márcio das Virgens Caiado. Éramos amigos desde 1979, quando ele ingressou no Partido, pelo trabalho que desenvolvemos no movimento estudantil na cidade.

Márcio completou 64 anos no último dia 3 de fevereiro. Márcio era daqueles amigos que, mesmo não convivendo cotidianamente juntos, estava sempre conosco, na memória, nas boas lembranças. Aquele amigo que você sabe que tem, e que pode acioná-lo quando for necessário.

Márcio iniciou vários cursos superiores. O que durou mais tempo, mas também não terminou, foi o de física na Unicamp. Mas, acabou por concluir na PUCC o curso de direito. Márcio soma-se a outros dez amigos/as que faleceram nos últimos 40 anos, dos cerca de 60 que éramos no movimento estudantil, objeto do livro que escrevo atualmente (a resistência estudantil na PUCC de 1978 a 1983).

Após concluir seu curso de direito, Márcio ingressou por concurso público como analista judiciário no TRT da 15ª Região, cuja sede administrativa fica na Dr. Quirino, esquina da Conceição. Eu o encontrava sempre por ali. Exatamente no dia em que se aposentou, 10 de dezembro de 2019, estivemos juntos no lançamento da candidatura comunista à prefeitura, da Drª Alessandra Ribeiro. Ficamos sentados juntos. Ele anunciou que estava voltando à militância. Lembrou nossos velhos tempos de juventude e resistência.

Moramos juntos em dois locais, entre 1978 e 1980. O primeiro local, na Rua Proença, na famosa república “La Barca”. No segundo local, na república da Dr. Quirino (invadida pela polícia certa vez e será capítulo de meu livro), que fica ao lado da livraria Pontes. Lá minha filha nasceu. São muitas lembranças. Algumas alegres outras tristes. Éramos como se fossemos uma família. O Partido nos unia. Guardávamos a pureza das crianças e da juventude. Márcio militou ativamente no movimento estudantil e sindical, tendo sido diretor do Sindicato dos Bancários de Campinas.

Márcio deixou dois filhos. A mais velha, Aline, que ele teve com Lavínia, a primeira esposa. O segundo, José Guilherme, que teve com Kátia Caiado, sua companheira de quase 40 anos, ela professora doutora. Deixou dois netinhos de seu filho José Guilherme.

Não somos seres eternos, por certo. Sabemos que morreremos um dia. Mas, jamais aceitaremos uma morte não natural como essa que se abate sobre a sociedade brasileira, fruto de um governo genocida. Márcio podería conviver ainda conosco por mais 20, 30 anos. Mas um vírus disseminado na sociedade, que poderá ceifar a vida de mais de um milhão de brasileiros/as, o retirou para sempre e abruptamente, de nosso convívio.

Agora Márcio entrou para um lugar que jamais sairá até o fim de todas as nossas vidas, de seus amigos e familiares: as nossas memórias, que jamais o esquecerão. Que seja eterna a sua memória. Descanse em paz, meu velho e bom amigo e camarada!

Prof. Lejeune Mirhan e família.