A História da nação Chinesa remonta a quatro mil anos ou mais. A China foi potência marítima antes dos navegadores europeus. Os chineses já dominavam a técnica da navegação e construção naval. Ao longo dos séculos a civilização chinesa sempre se ocupou das soluções de seus problemas de maneira original. A força vinculante cultural para a civilização chinesa foi a língua escrita comum, e corpo de literatura de grande antiguidade, que pode ser lido em todos os lugares da China. Com este pequeno ensaio ilustrado com três mapas, quero demonstrar o porquê a China já é hoje a maior e mais importante potência mundial.
Nos últimos 40 anos a China é um fenômeno que ainda temos que avaliar em maior profundidade. Tudo começou com a Proclamação da República Popular em 1º de outubro de 1949, que não será objeto deste trabalho. Porém, ganhou novas dimensões a partir de 1978, quando – após a morte de Mao em 1976 – ascende ao poder Deng Xiaoping. E, deste momento até o atual, tiveram novas e importantes configurações. Desde 1978, mais de 800 milhões de chineses foram retirados da pobreza, frisando que esta cifra representa mais de 70% da quantia global do período.
O objetivo do governo chinês, é a construção de uma sociedade cada vez mais inclusiva, que incorpora avanços civilizatórios e resgata o melhor das tradições milenares do povo chinês; a criação de uma base econômica poderosa, moderna, integrada com o mundo exterior, porém dele independente; uma concepção e montagem de defesa inexpugnável, ágil e versátil, com alta capacidade de dissuasão.
A era Deng
Se podemos dizer que Mao foi o construtor inicial da República Popular da China, entre 1949 e 1976 quando morreu, Deng pode-se dizer o construtor da Nova China, moderna e do século XXI. Vejamos quem foram os cinco grandes e mais importantes líderes chineses desde o início até os dias atuais: Mao Tsé Tung, Hua Guofeng, Jiang Zemin (ainda vivo), Hu Jintao e o atual Xi Jinping (cujo mandato presidencial deve ir até 2023 e será, seguramente, reeleito).
A China é uma potência em ascensão e vai passar os Estados Unidos em Produto Interno Bruto/PIB. Por paridade de compra já passou. Nós temos que voltar nossos olhos para a China. Ademais, ela constroi um socialismo com peculiaridades chinesas, como eles dizem. É um país dirigido por um partido comunista que hoje se aproxima de 100 milhões de membros. É o maior partido comunista do mundo que dia1º de julho completará 100 anos.
Hoje, todos nós temos que ser um pouco de sinólogo e acompanhar a conjuntura chinesa. Em relação a MaoTse-tung ou Mao Zedong (1), como se fala no Ocidente, quero registrar que parte de minha juventude foi formada com muita leitura, além de Marx, Engels, Lênin e Stálin, também de Mao.Tenho todas as suas obras disponíveis em português, os livrinhos vermelhos, todos anotados.
Mao, entre erros e acertos, construiu esta China Popular que pôde no período de 1976 a 1978, de transição, passar para o Deng Xiaoping (2), que é bem mais novo que Mao.Ele foi um estrategista militar. Então, ele além de ser um teórico, um estudioso do marxismo-leninismo, ele tinha uma especialidade, que é a estratégia militar.
Ele construiu, dirigiu e comandou o Exército Popular de Libertação – o EPL, que não se chamava exército vermelho, como na Rússia. Mao é o grande responsável pela vitória, depois de uma guerra civil que ele chamava de Guerra Popular Prolongada (Prolonged Popular War na sigla em inglês) (3). É uma teoria que vigorou com muito fundamento na China e lá foi desenvolvida. De lá para cá, outros países adotaram essa tática integral ou parcialmente.
Qual é a essência da teoria de Mao em relação ao processo revolucionário? A China era um país agrário, o proletariado chinês era muito menor do que foi o proletariado russo na Revolução de 1917, proporcionalmente. Mas, tanto um quanto o outro, tiveram participação significativana direção do processo revolucionário.
Mas, evidentemente, agrande massa que fez a revolução na China foi a massa dos camponeses. A teoria de Mao menciona um papel muito mais destacado aos camponeses e aí é um ponto que temos diferenças. Ele diz que haveria nessa Guerra Popular Prolongada, um cerco das cidades pelo campo.
E aí tem uma contradição. Evidentemente,não tem esse cerco. O que temos é uma luta conjuntade camponeses e operários. De qualquer forma, essa é a teoria deles. Sobre as contradições, no campo filosófico, Mao Tse-tung escreveu um livro específico sobreisso: “Contradições” (4), que eu também estudei muito na juventude. É que você tem que perceber as contradições que existem em uma luta de classes, elencar e prestar atenção em qual é acontradição prioritária, principal. Perceber as contradições secundárias, deixá-las momentaneamente de lado e atacar a contradição principal.
Isso diz respeito também a, por exemplo, uma política de alianças, que é sobre a Frente Ampla. Mao chegou em Pequim dia 1º de outubro de 1949 e consolidou o processo da sua revolução popular em uma aliança com 14 outros partidos, além do seu Partido Comunista. Então, ele não fez a revolução sozinho e não construiu a China, a partir de 1949, também sozinho. Elefez alianças.
A bandeira chinesa tem cinco estrelas, uma maior e quatro menores. A maior simboliza o Partido, que é o dirigente da revolução, o que comanda hoje o Estado chinês.As outras quatro são as classes sociais que participaram do processo da revolução: o campesinato,o proletariado, a burguesia urbana e a burguesia rural.
Mao Tsé-tung soube envolver no processo revolucionário esses setores médios da sociedade. Então, isso foi positivo. No entanto, a partir de 1949, especialmente, na década de 1960 a China foi varrida, abatida por uma fome, por uma tragédia,por dificuldades muito grandes. Era um país muito pobre, tentou-se socializar toda a riqueza com uma velocidade, talvez, maior do que fosse possível. Praticamente não havia o desenvolvimento capitalista na China. Praticamente, depois de 1949, tudo foi estatizado. O que foi diferente dequando Deng entrou.
Mas, apesar disso, houve também o problema da chamada “RevoluçãoCultural”, com muitas contradições, muitas perseguições desnecessárias. Por exemplo, especialmente, a intelectuais que eram até humilhados nas cidades, colocava-se aquele chapéu de burro na cabeça deles. Então, isso não foi positivo. No entanto,o que Deng vai fazer, a partirdaí?
Mao morre em 1976. O Deng játinha um papel importante nessa época. Ele era vice-primeiro-ministro. Sóque houve uma luta interna do poder entre 1976 e1978. Deng chegou a ficar em prisão domiciliar, mas depois se recupera e se projeta novamente. Ele sai vitorioso desta luta política. Com ajudade outro grande líder chinês, Zhou Enlai(5), é um grande estudioso teórico, líder revolucionário.
Com relação às alianças que também Mao trata disso,é preciso ver, por exemplo, qual é a classe social que você tem que eleger como sua inimiga principal. Tem que ver quais são as classes sociais que você pode neutralizar e, com quais classes, setores e segmentos da sociedade é possível fazer uma aliança para derrotar o inimigo principal. Isso é basicamente Lênin, a quem Mao era um grande estudioso.
O que Deng fez quando ele assume o poder real na China, foi algo diferente do que Nikita Khrushchov, por exemplo, fez na Rússia, em1956. Stálin havia morrido em 1953 e em 1956, ocorreu o famoso XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética – PCUS, e acontece o que se chamou de uma “desestalinização” da URSS. Então, jogou-se no lixo da história um líderque foi o construtor da União Soviética, o grande comandante do Exército Vermelho, que venceu a Segunda Guerra Mundial.
O correto, do ponto de vista marxista, seria fazer a crítica dialética, analisar corretamente quais foram os erros. Mas também, quais foram os acertos. E como disse Charles Bettelheim(6), que é um grande especialista em China e Rússia, que menciona que nós temos que pesar naquelas antigas balanças de pratos, os erros e os acertos, que tanto Stálin quanto Mao cometeram. E aí, não há dúvida,de que a o prato da balança pende para o lado dosacertos.
Então, você não pode superdimensionar o erro, de tal maneira quevocê anule os acertos e passe a combater ou “desmaoizar” a China. Isso a China não fez, mesmo reconhecendo os erros de Mao, a imagem dele está presente em todo lugar, não se acha ninguém que fale contra Mao. Então, é assim que os comunistas marxistas devem proceder. Infelizmente, na Rússia, isso não aconteceu.
O significado da era Deng
Deng será quem irá propor ao Partido e ao Congresso do Povo, as chamadas quatro grandes modernizações, que passarão a ser os pilares do desenvolvimento da Nova China. São elas: modernização na agricultura; modernização da indústria; modernização do comércio e a modernização nas áreas de ciência e tecnologia, bem como no setor militar.
Deng irá promover uma significativa abertura política e diplomática da China. Sob o governo de Jimmy Carter, que tomou posse em janeiro de 1977, as relações bilaterais começaram a se estabelecer. Foi ele o segundo presidente dos EUA a visitar a República Popular da China (Nixon foi o primeiro em 1971, mas não reatou relações diplomáticas, apenas abrindo caminho). Foi Carter quem normalizou as relações diplomáticas, que estavam rompidas desde 1949.
Essa abertura econômica proposta por Deng, implicará na criação de áreas chamadas de Zonas Econômicas Especiais onde empresas de quaisquer naturezas podem se instalar na China, montando a sua plataforma, mas a condição para que isso ocorra é uma associação com alguma empresa chinesa e que sigam estritamente as normas e regras adotadas pelo governo. Em alguns países isso é chamado de “Zonas de Processamento de Exportações”.
Diferente de Gorbatchov que foi o coveiro do socialismo na URSS, que implantou as suas famigeradas perestroika e glasnost, na China de Deng foram estudadas experiências de implantação de novos métodos administrativos e econômicos nas pequenas vilas, aldeias e províncias. Chu Enlai deu grande contribuição à teoria das quatro modernizações, que foi então criada e formulada de baixo para cima.
A China pós Deng e o período de Xi Jinping
Eu apresentarei alguns trechos que irão ilustrar esta nova política adotada pela República Popular da China, que eles chamam, na sigla inglesa Belt and Road(Cinturão e Rota). Como diz Lênin: “não existeprática revolucionária sem teoriarevolucionária”.Oschineses são estudiosos.Todos os planos quinquenais ou decenais são baseado sem muito estudo e muita teoria.
Todos os trechos que menciono a seguir foram extraídos do livro A governança da China, editora Contraponto (Foreing Languages Press), de 2019, Volume 2, com 696 páginas. Trata-se de livro com coletânea dos mais importantes pronunciamentos do atual presidente da China, Xi Jinping.
O primeiro dirigente que assume o comando da China é Hua Guofeng(7). Ele ficaum período longo, concomitante a Deng que também assume em 1976. Dengtalvez fosse o membro do Comitê Central do Partido mais influente e forte após a morte de Mao em 1976. Ele é considerado um dos grandes líderes que são construtoresdesta nova China, da economia socialista de mercado ou economia de mercado socialista.
Um dos cargos mais importante que existe na China, além de presidente, primeiro-ministro e secretário-geraldo Partido, que hoje Xi Jinping acumula os três, é o da presidência da poderosa Comissão Militar do Comitê Centraldo Partido Comunista da China (que Deng ocupou entre 7 de outubro de 1976 até 28 de junho de 1981). Não há dúvida, como dizia Mao, o poder está na ponta do fuzil e, quem tem o fuzil é o presidente da Comissão Militar.
A China passou a investirem pesquisa em Ciência & Tecnologia, desenvolvimento de novas técnicas agrícolas, modernizações etc. Em um momento histórico, mais ou menos, até relativamente grande, a Chinaera conhecida como “copiadora”. Ela copiava tudo o que tinha no exterior.
Hoje a China lidera, é um país de ponta em pesquisas, tanto que os Estados Unidos já ficaram para trás. Um exemplo disso é a própria a tecnologia 5G. Eles já pesquisam o 6G, com a velocidade altíssima. Na tecnologia espacial, a China hoje já avança para ter a sua estação espacial – cujo primeiro módulo já foi lançado –, já foipara a lua e iráà Marte.A China hoje não é mais aquela que em algum momento copiava produtos estrangeiros. Ela mandou estudantes pesquisar e estudar no mundo inteiro. Fizeram seus doutorados com bolsa de estudos do governo chinês. E voltaram para lá e entraram em equipes que desenvolveram os projetos mais importantes.
A China tem a Internet mais veloz do mundo. Por causa da tecnologia 5G deles. Mas, a internet lá é regulada, que é diferente de controlada. É regulada pelo Estado. Então, tem alguns portais do Ocidente que não existem na China. Ela tem portais semelhantes. É evidente que quando a burguesia do Ocidente fala em liberdade de expressão e manifestação, na verdade ela quer mesmo a liberdade para defender a exploração entre seres humanos. A liberdade que eles querem é para defender o capitalismo. Mas isso não acontecerá na China.
Mesmo sendo o Partido Comunista legalizado no Brasil, ele não tem acesso aos meios de comunicação que a burguesia tem. Na China é o contrário. Lá os comunistas têm acessoaos meios de comunicação, existem outras organizações, a imprensa funciona.O que é proibido na China? É proibido voltar a pregar o Capitalismo. É isso eles não escondem.Essa é a única proibição na China, não tem outra. Como aqui, é praticamente proibido você pregar o socialismo, o comunismo. Há limites da tal democracia burguesa.
Então, nós temos queentender e não olhar com os nossos olhos e usar a nossa métrica para avaliar outras sociedades. Aliás,cada vez fica mais claro, especialmente, para os russo se chineses, quando eles se encontram e afirmam que não existe um modelo únicode democracia. Nós temos que acabar com essa mentalidade que os Estados Unidosfalam que vão levar a democracia para o mundo. E quem disse que o modelo deles é democrático?
Quando se fala de organização sindical, para termos uma ideia, nas fábricas privadas chinesas, quem manda mais é o comitê do Partidoe não o dono da empresa. Ele tem seu lucro, ele também ganha. Mas, o poder não está com ele. Ele segue as normas fixadas pelo Estado chinês, que tem a orientação socialista.
Quando alguém visita na China uma grande empresa, uma grande indústria,com milhares de empregados, quem vem recepcionar as pessoas é o chefe do Partido, e não o dono da fábrica. O empresário também enriquece, mas os trabalhadores também ganham. Distribui-se a riqueza produzida de uma forma muito maior do que no Brasil, que não distribui a riqueza produzida no setor privado.
Para que tenhamos uma clara ideia do significado da China nos últimos 70 anos, com dados fornecidos pelo FMI, vejam a participação do PIB dos vários blocos com relação ao PIB total da Terra. Vejam que o bloco capitalista, liderado pelos EUA, declina imensamente, caindo no período mais de 40%. Ao passo que o bloco dos BRIC (sem o “s”), vai crescer a sua fatia total em mais de 60%.
PIB da Terra |
||||
Região da Terra |
1950 |
1992 |
2019 |
Variação |
EUA/UE/Japão |
57,7% |
49,2% |
32,9% |
-42,98% |
BRIC |
20,0% |
13,6% (1) |
32,8% |
+64,0% |
Resto do mundo |
22,3% |
37,2% |
34,3% |
+53,81% |
Fonte: FMI
PIB da Terra |
||||
Região |
1950 |
1992 |
2019 |
Variação |
EUA |
28,3% |
%18,9 |
15,1% |
-46,64% |
Fonte: FMI
Essas duas tabelas ilustram perfeitamente a imensa decadência não só do bloco capitalista mundial, mas particularmente dos Estados Unidos. Vejam que em 1950 eles detinham praticamente um terço de toda a economia mundial, do PIB da Terra como chamamos. E chegam em 2019, quase 70 anos depois, registrando um encolhimento de quase 50% dessa fatia, ou seja, detendo apenas 15% da riqueza total da Terra, ou próximo da sétima parte. Essa decadência é exatamente o que explica a agressividade dos EUA contra a China, em particular.
O mundo só não é tão ou mais injusto do que nós possamos imaginar, porque a China conseguiu tirar da pobreza 800 milhões de pessoas. Então, o mundo, a ONU e as suas estatísticas, só podem dizer que a pobreza está diminuindo, não pelo esforço de todo o conjunto da terra, mas pelo esforço da República Popular da China. Hoje eles já não têm mais a chamada pobreza extrema. Isso está eliminado na China. A Dilma tinha esse objetivo no seu governo, mas não conseguiu, pois foi derrubada quando estava próxima de conseguir. A fome e a pobreza extrema estão aumentando no Brasil.
O objetivo da China é construir umas ociedade que atenda às necessidades básicas de toda a sua população. Isso só vai ser atendido no limite, quando houver o socialismo verdadeiro ou o comunismo. Por enquanto, eles têm um objetivo, que é de uma sociedade modestamente próspera. Este é o termo que eles usam. Mas, sabemos que isso sóocorrerá em muitos anos, talvez, quando a revolução completar cem anos,em 2049.
É preciso dizer que este plano que o Deng desenvolveu,é completamente diferente do que foi na União Soviética.O Gorbatchov fez aPerestroikae a Glasnost da cabeça dele e de alguns burocratas, seus assessores, e tentou implantar na Rússia inteirinha, mas não deu certo. Foi uma política que veio de cima para baixo.
O plano de Deng é o plano que veio de baixo para cima.Ele conheceu, visitou e teve contato com centenas de experiências de províncias e pequenas vilas. Como era o processo, sempre com aparticipação do Partido. Então, nós podemos dizer que esse plano das quatro modernizações é um plano de uma construção teórica, também coletiva.
Chegamos na chamada economia socialista de mercado. Alguém pode contestar e dizer: ou é Capitalismo ou é Socialismo. No Socialismo não pode ter mercado? No feudalismo não tinha mercado? No regime escravista não tinha mercado? Eles não faziam comércio no centro da cidade? Tudo tinha mercado.
Quando a comuna primitiva começou a surgir e se desenvolver por milhares de anos, o comerciante foi o primeiro que prestou atenção entre o produtore aquele que precisa comprar, ele articulava este processo e fazia a venda. Assim o Socialismo terá uma Economia Socialista de Mercado com características um pouco diferentes para nós.
A parte mais importante do livro que mencionei acima, é a que Xi desenvolve aspectos, teoriza, orienta, como líder do Partido, o que eles chamam de:One Belt, One Road(Um Cinturão, UmaRota). Parece um termo meio estranho, mas vou apresentar a seguir os mapas que ilustram bem as novas as “NovasRotas da Seda”. Eleusa esse termo, que não é inventado poranalistas ocidentais.Veremos o que eles chamam de conectividade, ou seja, projetos de grandes investimentos em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Veremos em especial o traçado dessas rotas.
O significado das novas rotas da seda
Esse cinturão econômico e rota,são os projetos chineses para o Século 21.O objetivo fundamentaldisso, a palavra mágica, que Xi pronuncia dezenas devezes, em seus pronunciamentos, é“interconectividade”.Eles precisam ligara China com o resto do mundo. Como isso não vai acontecer espontaneamente, eles têm que fazer investimentosem infraestrutura. Então, neste primeiro pronunciamento, o mais importante, ele vai levantar cinco questões (9).
Em algum momento ele cita aquilo quenós já falamos várias vezes, todos os acordos que a China estabelece é: ganha-ganha. Isso está no pronunciamento que ele fez em 17 agosto de 2016: “respeitar a igualdade e buscar resultados ganha-ganha” (páginas 618 a 621 do livro citado, volume 2). Quando se ouvir por aí, alguma na lista falando ganha-ganha, saiba que isto é uma política oficial do Estado Chinês,hoje.
E finalizo mostrando os gráficos. Eles têm um superávit de três trilhões de dólares. Em torno de um trilhão está investido em títulos do tesouro dos Estados Unidos, que rendem um pouquinho por ano, mas são os considerados os títulos mais seguros. Os outros dois trilhões estão sendo investidos nessas rotas de interconectividade.
Pela ordem, os três mapas que ilustram essas novas rotas da seda são os seguintes:
Mapa1
Chamado de Um cinturão e uma estrada. A China e as novas Rotas da Seda.As rotas econômicas da seda, são as linhas vermelhas. Veja que aprioridade é ligar a China com a Índia, pelo mar do Sul da China, onde está também Singa pura, passando por Teerã, capital do Irã, passa pelo porto de Gwadar, no mar arábico, para atingir o mundo árabe. Passa pelaTurquia, passa por Moscou e vai até aEuropa.
A rota azul é uma rota marítima. Ela sai de um porto muito importante na China, que é o Suzhou, passa por Jacarta,que atravessa toda a região dos países da ASEAN (Associação dos Países da Ásia) e passa pelo estreito de Cingapura, vai para o Sul da Índia, Colombo e estaciona em países da África. Essa é a rota de entrada para esse continente, que nós vamos ver em outro gráfico.
Em Mombaça e Djibouti, bem na portinha da entrada do Mar Vermelho, que é a uma porta de entrada pequenininha, e é chamado de Babel Mandeb, em árabe, Portado Mar Vermelho.Toda essa região que banha o Iêmen, Omã, Arábia Saudita. Essa região chama o Mar da Arábia. E aí o MarVermelho vai chegar ao Canal de Suez e Djibuti, que é naquela região do lado da Etiópia, é o chamado Chifre daÁfrica.
Djibuti é o único país onde a China tem uma pequena base militar, que é um local de apoio e abastecimento para as suas frotas navais, que só ficam no Pacífico, diferente das frotas dos Estados Unidos, que são sete, que se espalham pelo mundo. Atraves sao Canal de Suez, onde se chega ao Mar Mediterrâneo. Aívai para os Pirineuse Venice, na Itália. Veja que é um cinturão e é uma rota. Os que estão marcados com bolinhas alaranjada, são membros da Ásia Infraestrutura Investimentos Bank. Elestêm um banco de investimento da Ásia, onde a China a porta o maior capital.
Mapa2
Aquisão os projetos submetidos às autoridades chinesas e à organização que executa os projetos. Prestem atenção as faixas maiores decores, têm faixas maiores, vermelhas e faixas maiores, azuis. Da mesma forma, as faixas maiores vermelhas são as de rota terrestre e, as faixas azuis, são as marítimas. No entanto, tem aí uma série de oleodutosplanejados, rodovias, gasodutos.
Prestem atenção na África, como a rota adentra na África e chega até o Atlântico. Observem como ela atravessa todo o continente africano, vai até o lado da Costa no Atlântico. Então, é para a expansão desses produtos chineses. Este mapa diz respeito a isso.
Mapa 3
Velhos nomes, novas rotas. O transporte e a infraestrutura nas várias formas das iniciativas da rota da seda. O que está em vermelho é o cinturão da rota da seda econômico. Estamos falando aqui de rodovias e ferrovias. A prioridade deles é a própria China e os países vizinhos. E ele termina no porto de Roterdã, na Holanda, que é o maior porto do mundo.
Essa é a interconectividadepara que os produtos chineses cheguem ao maior número de países. Nenhum país do mundo tem isso. Os Estados exportam para o mundo inteiro, é verdade. Mas, eles não se preocupam em criar condições de infraestrutura para o produto deles chegar lá. A China está criando.
O azul pontilhado são as rotas da Seda Marítimas. Os dois portos principais Suzhou e Hanoi que, na verdade, é Vietnã.Jacarta, Colombo, Índia,Nairóbi, Djibuti, MarVermelho e Grécia. E aí,se atinge toda a Europa.Veja monde termina o pontilhado Azul. Na Espanha.
Passapor vários países.A rota que vai para a Espanha é a ferrovia transiberiana,famosa que é a número um no mapa.Elapassa na China, em Mongólia, vai até Moscou,dali para o Irã, Turquia, essa região toda etermina na Espanha, perto do Estreito de Gibraltar.Estadeveser a maior ferrovia do mundo.
E tem uma segunda que eles atendem na região de Cingapura. E, uma terceira, que é propriamente chinesa. Ela é interna e s e interconecta com todas as rotas, para fazer fluir internamente os próprios produtos chineses. Estes são os três mapas mais explicativos que localizeipara este nosso pequeno ensaio paraque se tenha uma noção clara do significado e da dimensão dessas chamadas novas rotas da seda.
Conclusões
Olhando esses mapas e gráficos vamos entender o porquê da China ser considerada inimiga dos Estados Unidos. Mas,não é ela quem quer ser inimiga. Os Estados Unidos é quem a elegeram como sua inimiga. A China quer um mundo de paz, harmonia, desenvolvimento, prosperidade. Ela está fazendo a parte dela, ajudando outros países mais pobres, em desenvolvimento, com financiamento e infraestrutura. Os ingleses não construíram ferrovias no Brasil? Construíram, claro que não foi de graça, eles tinham interesse nesse desenvolvimento para escoar seus próprios produtos no país, que ficou endividado várias vezes. A China não, ela tem outro modelo de desenvolvimento.
Ela financia a infraestrutura para beneficiar o país, com quem ela mantém contratos comerciais, os dois lados ganham. São contratos ganha-ganha. O mundo geopolítico do século 21, a partir da segunda década, até 2030, nós vamos presenciar este desenvolvimento maciço da China, na busca da igualdade e de uma sociedadeque eles dizem “modestamente próspera”, ou seja, melhorara situação do seu povo e exportar desenvolvimento, exportar seus produtos eexportar riquezas. É este o modelo que a China defende.
Se a China já ultrapassou os EUA no chamado PIB por Paridade de Poder de Compra, em breve ultrapassará também pelo PIB Per Capita. Mas não só isso. Até 2030, terá comissionado mais quatro porta-aviões, totalizando sete em operações. Nada que se compare ainda aos 10 nucleares dos EUA, mas chegando perto em termos de superioridade militar.
A China não quer dominar o mundo. Não quer e nunca quis ser hegemônica. E isso a diferencia de todos os países que um dia chefiaram ou foram sedes de impérios mundiais. A China quer um mundo de igualdade, justiça, de harmonia e de desenvolvimento. Onde todos os países e povos possam viver sem conflitos e que possam livremente, ofertarem os seus produtos e as suas mercadorias, sem que isso significa um tensionamento, como hoje ocorre. Temos a plena convicção que isso nós veremos em breve. O sonhado mundo multipolar.
Notas:
Foi o primeiro primeiro-ministro da China, atuando como chefe de governo entre outubro de 1949 e janeiro de 1976, quando veio a falecer. É considerado um grande líder do Partido Comunista Chinês, sendo uma das figuras mais próximas do Presidente Mao Zedong e personagem principalpara a ascensão e consolidação do Partido Comunista.
* Sociólogo, professor universitário (aposentado) de Sociologia e Ciência Política, escritor e autor de 15 livros, é também pesquisador e ensaísta. Atualmente exerce a função de analista internacional, sendo comentarista da TV dos Trabalhadores, da TV 247, da TV DCM, dos canais Outro lado da notícia, Iaras & Pagus, Rogério Matuck, Contraponto, Democracia no ar, Conexões, todos por streaming no YouTube. Publica artigos e ensaios nos portais Vermelho, Grabois, Brasil 247, DCM, Outro lado da notícia, Vozes Livres, Oriente Mídia e Vai Ali. Agradeço à Ademir Munhóz pelo trabalho de transcrição de meus programas internacionais (ademir@piracaihoje.com.br). Todos os meus livros podem ser adquiridos na Editora Apparte no endereço: www.apparteditora.com.br e as compras podem ser parceladas em até seis vezes sem juros. O meu site pessoal é www.lejeune.com.br, onde estão todos os meus artigos, a maioria de política internacional e também política nacional e Sociologia brasileira. Recebo e-mails no endereço: lejeunemgxc@uol.com.br. Meu Zap é +5519981693145. Meus endereços nas redes sociais são: Facebook: www.facebook.com/lejeune.mirhan; Instagram: @lejeunemirhan; Twitter: @lejeunemirhan; Youtube: lejeunemirhan; VK: Lejeune Mirhan (vk.com).