Não era nossa intenção iniciar a participação no processo de discussão dos temas do Congresso pela questão da educação partidária. Há assuntos que temos acompanhado pela Tribuna de Debates que tem nos motivado a desenvolver mais estudos e leituras, em especial assuntos do tema Internacional das teses e particularmente sobre a crise do capitalismo. Mas, tais discussões seguirão em artigos posteriores.
No processo de realização das Conferências Municipais, em praticamente todas elas elegemos novas direções nas cidades. Em sua grande maioria compostas de camaradas que entraram no Partido há poucos anos, para não dizer em menos tempo. Não conhecem ou conhecem pouco a história partidária, as doutrinas, não tiveram oportunidades de participar de curso de educação política e ideológica nas escolas do Partido, enfim, assumem o comando partidário sem o preparo necessário para as tarefas que se avizinham.
Grosso modo, se fizermos Conferências em mil cidades, sairemos deste Congresso com perto de 7 mil dirigentes municipais, se levarmos em conta uma média de 7 por cidade e centenas de dirigentes estaduais.
Há uma diferença entre a formação e a capacitação política que ocorre no dia-a-dia das lutas das massas, com o povo, nas fábricas, nas escolas e bairros e a que se faz necessária para a formação de um quadro de direção do Partido. Um quadro partidário deve aliar o importante aprendizado da luta com o estudo sistemático da teoria marxista-leninista. Para isso, além do estudo individual, são necessários cursos especiais em vários níveis, que devemos voltar a pensar em montar.
Até um certo tempo atrás, existiam os cursos nacionais, em vários níveis. Havia ainda os cursos chamados panorâmicos, com duração variada. Nestes últimos 6 anos, considerando apenas o tempo do fim da URSS até hoje, o mundo passou e passa por mudanças profundas. Valores há tempos arraigados, são, de um momento para outro, contestados. Conceitos históricos são revistos, modificados. Quem era revolucionário é visto pela mídia como conservador, “jurássico”, dinossauros etc.
Ainda em passado recente, chegamos a ter apostilas de cursos marxistas-leninistas (em são Paulo tínhamos a do Ceps). Mesmo alguns dos livros didáticos que usávamos, como os da Martha Harnecker e o de George Politzer, ambos verdadeiros manuais de estudos, falam de uma época e de um tempo que já não é o mesmo (o campo socialista hoje restringe-se a poucos países e mesmo esses, enfrentam dificuldades). Mas a pergunta que fica é: ainda assim, os conceitos fundamentais dessas obras modificaram-se? Tornaram-se obsoletos? Precisam ser revistos? Pensamos que não.
Em nossa experiência na docência do ensino superior, é muito comum alguns alunos em cada sala de aula interessarem-se pelo aprofundamento dos estudos do marxismo enquanto ciência da sociedade e criadora de leis gerais que procuram explicar essa mesma sociedade. A indefectível pergunta que quase sempre vem é: “professor quais livros o senhor recomenda para eu ler no sentido de aprimorar meus conhecimentos do marxismo”?. E ai, apresentamos uma lista, um pequeno roteiro de leitura.
Refletindo concretamente nessa questão, podemos imaginar que há uma “ordem” lógica para o crescimento na educação ideológica marxista-leninista, ou as leituras podem ocorrer aleatórias, em qualquer ordem? Ainda outro dia no Comitê Estadual de São Paulo, ao procedermos a filiação de uma estudante universitária, esta nos disse que já havia lido dois volumes do capital, mas não tinha lido o Manifesto Comunista (que aliás fará em fevereiro de 98, 150 anos da sua publicação). Disse-nos que “não havia entendido bem O Capital...”, mas não era para menos.
O aprendizado segue um acúmulo contínuo e sistemático, organizado, onde tudo deve vir a seu tempo. É assim na vida, no aprendizado profissional, nas escolas e nos processos de educação formal. Existem pré-requisitos no aprendizado para que possamos ir evoluindo gradativamente (salvo os gênios que saltam etapas). Também no Partido e na questão da educação deve ser dessa forma.
Nesse sentido, devemos fortalecer a Comissão Central de Educação do Partido. E propositalmente usamos a palavra Educação, para diferenciar da formação e capacitação, que devem ser utilizados especificamente para determinados aspectos do aprendizado, aspectos particulares. A educação é contínua e permanente e em nosso caso, devemos preservar e manter o espírito criador e revolucionário da teoria marxista-leninista.
Quando o filósofo grego pré-socrático Heráclito, precursor da dialética moderna disse a sua famosa frase “...não é possível a um mesmo homem banhar-se em um mesmo rio duas vezes, porque nunca será o mesmo homem e o rio não será mais o mesmo ...”, queria nos dizer, na essência, que tudo muda e se transforma. Essa concepção mudou? E propaga-se com uma solidez no ar há 2,5 mil anos.
Assim, recompor a Comissão de Educação, composta por intelectuais orgânicos do Partido (que podem ou não ser intelectuais e acadêmicos no dia-a-dia) deve ser pensada pelo 9º Congresso. E recompo-la dando-lhe a atribuição, entre tantas outras de pelo menos as seguintes tarefas: 1. Elaboração de uma seleção (em ordem de complexidade) de uma lista de livros da doutrina marxista-leninista por níveis de complexidade; 2. Elaborar um roteiro de estudos do Capital[1]; 3. Organizar cursos em diversos níveis (seriados ou com imersão total); 4. Preparar pequenos manuais e apostilas que facilitem o aprendizado dos quadros do Partido; 5. Contribuir para ampliar o trabalho com a intelectualidade próxima do Partido; 6. Fazer um levantamento e propor uma articulação nacional entre os camaradas doutores (professores universitários, pesquisadores ou não); 7. Estudar formas de como a Comissão de Educação trabalha com o Instituto “Maurício Grabois”. São essas algumas idéias iniciais e propostas para a discussão.
[1] A edição que utilizo é da Bertrand do Brasil, de 1991, traduzida por Reginaldo Santana a partir da 1ª edição original Alemã terminada de organizar por Friedrich Engels, e tem os 4 Livros, totalizando na edição brasileira 9 volumes.