Lejeune Mirhan*
A Síria é país milenar. Provavelmente, o mais antigo de todos os países árabes, ao lado da Palestina, Egito e Iraque. Sua Capital, Damasco, tem pelo menos cinco mil anos de vida continuada comprovada. Desde 2011, quando da chamada Primavera Árabe (sic), vem sendo agredida por terroristas mercenários, à soldo da Arábia Saudita e outros países pró-EUA. Mas, após sete longos anos de sofrimento ao seu povo, o governo sírio junto com seu exército árabe sírio, praticamente venceram a guerra. Vamos abordar neste artigo um pouco da história antiga da Síria, seu processo de arabização, a Síria moderna e seu Partido Socialista Árabe Sírio Baath e os dias atuais e suas perspectivas.
Um pouco da história da Síria
O nome em árabe da República Árabe da Síria é Suryyah. Seguramente, é dos países mais antigos do Oriente Médio. Faz fronteiras com o Iraque, Líbano, Palestina (que nos mapas aparece com Israel), Jordânia e Turquia. Até a primeira Guerra Mundial, antes dos acordos de Sykes-Picot, estabelecidos em maio de 1916, a região era conhecida como Bilad El Sham (Grande Síria ou Levante). Os povos que ali habitavam eram conhecidos como “levantinos” ou Povos do Levante. Essa região sempre foi uma Província tanto do Império árabe quanto do Império Otomano. O Levante era composto pelas atuais Síria, Jordânia, Líbano e Palestina, bem como uma faixa da região Sul da Turquia, predominantemente cristã, cujo centro político e religioso era a cidade de Mardin (hoje em mãos turcas).
A história registra o ano de 1453 quando da queda de Constantinopla (anteriormente chamada de Bizâncio), sede do Império Romano do Oriente, quando os povos de etnia turca tomam a cidade e ali implantam a sede do Império Otomano. Esses povos já haviam se convertidos ao islamismo, portanto eram muçulmanos. Aos poucos e a partir dessa data, o Império Otomano vai tomando para si as terras conquistadas pelo árabes. Assim, podemos dizer de certa forma, que o Império seguiria sendo islâmico, mas havia trocado a etnia de comando, passando dos árabes para os turcos.
No caso da Grande Síria, ela era sede do Califado Omíada, estabelecido pelo terceiro Califa bem orientado (rashidun), que se chamava Otman. Esse califado foi fundado na verdade pelo então governador da Síria, Mouáuia I, logo após a primeira guerra civil islâmica em 661 (ano 41 da Hégira). Por isso a sede do Califado na cidade de Damasco. A partir desse momento, ocorre a maior expansão do império árabe-muçulmano e o maior império que a humanidade havia conhecido até então (epois disso, sería classificado como o quinto maior de todos os tempos na história).
No entanto, com o fortalecimento do Império Otomano, que também vai se expandir no mesmo espaço conquistado pelos árabes e pelo califado Omíada, no ano de 1516, eles chegam à Damasco e a Grande Síria cai inteiramente sob o domínio dos Otomanos. E assim ficará praticamente até o término da I Guerra Mundial em 1918.
A Síria moderna, cuja independência só foi reconhecida em 17 de abril de 1946, quase nada tem a ver em termos de tamanho territorial com o do Levante das épocas dos impérios islâmicos. Ainda que não existam dados precisos sobre a área total do Levante, muitos a estimam em torno de 306 mil Km2, sendo que a Síria dos acordos de Sykes-Picot fora reduzida a pouco mais de 180 mil Km2, ou seja, quase a metade de seu território histórico.
A Síria sempre foi um país pluriétnico. Lá sempre conviveram em paz diversas etnias e religiões, tais como os sunitas, os xiitas, os drusos, os alauitas, os cristãos, os syriannes e os yazidis entre outros. Ainda que a constituição mencione o Islã como religião oficial, apenas na Síria o Estado é completamente separado das religiões.
Fatores importantes da história síria no século XX
Há que se registrar dois grandes fatos históricos ocorridos no século XX com relação à Síria, após a sua independência em 1946. O primeiro deles, foi a fundação do Partido Baath, em 1947 e depois disso, a criação da República Árabe Unida – RAU, uma aliança política estabelecida com o Egito do presidente Gamal Abdel Nasser (1918-1970). É importante que comentemos ambos episódios.
O Partido Árabe Baath, posteriormente chamado Partido Socialista (ou Social) Árabe Sírio foi fundado em 7 de abril de 1947 por três cidadãos sírios, sendo o mais proeminente chamado Michel Aflaq, de origem cristã. Os outros dois chamava-se Salah Al Din Bittar e Zaki Al Arsuzi. Esse viria a ser o mais importante partido na política em praticamente todo o Oriente Médio árabe. Ele tem ramificações em todos os países árabes, pois ele se propõe a ser pan-árabe, ou seja, um partido que deveria governar todos os árabes, ainda que estes estejam espalhados em mais de 20 países diferentes.
A sua força maior sempre foi na própria Síria, onde governa até os dias atuais (desde a revolução de 8 de março de 1963) e no Iraque, que governou desde 1979 (e mesmo antes disso) até a morte de Saddam Hussein em 2003. O Partido tem como sua ideologia básica o chamado nacionalismo árabe, o socialismo árabe, o pan-arabismo e o anti-imperialismo. Esses são os quatro pilares de sustentação ideológica do Partido, que teve influência de muitos ex-membros do Partido Comunista Sírio, de orientação marxista-leninista.
O segundo aspecto mais importante da Síria moderna no século XX foi a unificação com o Egito, tornando-se como se fosse um país único, que passou a se chamar de RAU – República Árabe Unida. Esse era o postulado principal do Partido Baath, qual seja, um único povo teria que estar reunido em um único país. Esse episódio ocorreu e vigorou entre os anos de 1958 e 1961, por pouco tempo.
O presidente do Egito nessa época era o lendário Gamal Abdel Nasser, até hoje considerado o maior líder árabe da história. Nasser, se vivo fosse, tería completado cem anos em 18 de janeiro de 2018. Ao assumir a presidência do Egito em 1954, tinha apenas 54 anos. Ele fazia parte do grupo chamado Movimento dos Oficiais Livres, do Exército Egípcio, composto por jovens oficiais com visão mais avançada de mundo e contra a monarquia do corrupto rei Farouk I. Nasser era claramente anti-imperialista, em especial contra a Inglaterra, que havia colonizado o seu país. Nacionalizou o canal de Suez, a mais importante rota de escoamento do petróleo árabe para o Ocidente.
Nasser oscilou muito política e ideologicamente. Ora teve alianças com a esquerda e o Partido Comunista, ora os colocou na clandestinidade. Governou o Egito até a sua morte em 28 de setembro de 1970, quando seu funeral paralisou praticamente todo o mundo árabe. Sua formação militar sempre fez com que Nasser desprezasse os partidos, tendo convivido muitos anos em seus 16 de governo como presidente, em regime de partido único.
Na Síria, o sentimento pan-árabe era muito grande, ou seja, o povo sírio era o maior defensor de uma Nação árabe unificada. Isso, claro, é reflexo direto das imensas perdas territoriais que a Grande Síria sofreu (região do Levante, como vimos), quando dos desmembramento da região em quatro países. O líder do Baath e seu fundador na Síria, Michel Aflaq era grande defensor dessa unificação, ainda que tivesse restrições ao modelo de partido único de Nasser.
A partir de 1º de fevereiro de 1958, surge a RAU. As nacionalidades sírias e egípcias foram abolidas e todos os integrantes desses dois países seriam chamados simplesmente de “árabes”. Evidentemente, os motivos que levaram a aceitação da unificação pela liderança do Baath, relaciona-se com o fortalecimento do Partido Comunista Sírio, sob a liderança de seu secretário-geral Khaled Bakdash. Os comunistas eram muito fortes na Síria e poderiam chegar ao poder em breve. Isso fez com que Nasser e os socialistas do Baath, aceitasse a unificação.
Lamentavelmente, a união acabou durante pouco. Nasser dizia-se de “orientação socialista”, ainda que tenha perseguido os comunistas em vários momentos. Criou contradições com os socialistas do Baath sírio. Seu programa de estatizações também criou arestas com o empresariado dos dois países. Assim, durou apenas três anos a experiência de criação de uma Nação Pan-Árabe.
A revolução de 8 de março de 1963
Esse movimento é decorrente do fim da RAU, da aliança com os egípcios de Nasser. Na Síria, o protagonismo político do seu exército árabe sempre foi muito grande. Nesse sentido, o setor militar do Partido Baath, de orientação socialista, sabedor da força dos comunistas entre os militares, faz uma aliança com nasseristas sírios e perpetram um golpe de estado, de caráter militar e tomam o poder. Fala-se em quase mil mortos nesse movimento, que entregou o poder ao Baath, sob o comando de um dos seus fundadores, que foi Salah Al Din Al Bittar.
Três anos após o movimento de 1963, a Síria vive um novo golpe de estado, desta vez refletindo uma aguda luta interna no próprio Partido Baath. Os livros de história registram como sendo uma luta da ala jovem desse Partido contra os “aflaquistas”, seguidores do fundador Michel Aflaq. Isso vai gerar o que se chamou de “movimento corretivo na Síria”, ou ainda como em alguns livros de história “Revolução Corretiva na Síria”, de 13 de novembro de 1970, que vai levar ao poder o general Hafez Al Assad, que governará o país até a sua morte em 10 de junho de 2000, quando seu filho, o médico oftalmologista Dr. Bashar Al Assad assumiu a presidência da República. O general Assad teve formação soviética, onde passou muitos anos aprofundando sua formação militar.
Nesses três momentos, há história síria – 1963, 1966 e 1970 – é o coroamento de um luta interna não só dentro do Partido Socialista Árabe Sírio Baath, mas entre duas facções militares sob influência desse Partido. Acabou vencendo, por assim dizer, uma ala mais moderada. O jovem general Assad, ministro da Defesa, participante da Guerra dos Seis Dias de 1967, acabou vendo sua derrota quando da perda das colinas de Golã até hoje em mãos israelenses.
De qualquer forma, o chamado Conselho Nacional do Comando Revolucionário, envolvendo o próprio Partido Baath, mais o Movimento Nacional Árabe, a Frente Unida Árabe e o Movimento de Unidade Socialista, passam a dar o tom na política síria desde esse período e seus ideais progressistas e patrióticas se encontram presentes até os dias atuais. Não por acaso a Síria sempre foi a pedra no sapato do imperialismo estadunidense em seus planos para ocupar e controlar inteiramente o mundo árabe.
O pensamento central do Partido Baath sempre foi: unidade, liberdade e socialismo. Eles marcam o centro da política e de todos os governos que passaram na Síria desde 1963. Os postulados fundantes do Baath deixam claro: não foi o Islã que modelou os povos árabes, mas sim foi a Nação árabe que criou o Islã. Vejam por esse aspecto que até a religião do povo árabe, que tem influência em mais de 90% de sua população geral (estimada hoje em 400 milhões), criou uma religião e não ao contrário.
O início das agressões externas em 2011
O mundo árabe foi sacudido, a partir de dezembro de 2010 na cidade de Túnis, na Tunísia, por um grande movimento popular que surpreendeu a todos, em especial a esquerda. Milhões de pessoas foram às ruas para derrubar as tais “ditaduras” árabes (estranho que esse movimento ocorreu apenas nos países que adotam a República como sistema de governo; nenhuma monarquia reacionária e pró-EUA presenciou qualquer movimento contra elas). A imprensa, sempre desejosa de batizar, dar nomes a movimentos, prontamente a chamou de “Primavera Árabe” (sic), terminologia essa que os árabes jamais aceitaram (muitos chamam de inverno árabe).
Já a partir de janeiro de 2011, a famosa Praça Tahir no Cairo é tomada pela juventude que vai defender a derrubada do ditador Hosni Mubarak (aqui, registre-se que o Egito, desde 1954 com Nasser, passando por Anuar El Sadat e com Hosni Mubarak, em 57 anos teve apenas três presidentes). O governo Mubarak sempre foi – como seu antecessor Sadat o fora também – pró-EUA. Esse país era – e ainda é – um satélite dos Estados Unidos e para isso recebe todos os anos uma ajuda da ordem de dois bilhões de dólares (mais ou menos o que Israel recebe do tesouro dos Estados Unidos anualmente).
Alguns analistas chamaram esse movimento de Revolução Facebook, pois o recurso de chamar as pessoas a partir de eventos criados passou a dar enormes resultados práticos. Os eventos não tinham dono. E ganhavam milhões de aderentes. Por isso as praças estavam sempre lotadas. Dessa forma, o governo odioso de Mubarak não tinha como durar muito (esse ditador assumiu com a morte de Anuar El Sadat, executado por um comando guerrilheiro da Irmandade Muçulmana em 14 de outubro de 1981), pois havia governado o Egito contra seu povo por quase 30 anos seguidos. Acabou caindo em 11 de fevereiro desse ano.
Ocorre que o grande destino desse movimento – que a esquerda ainda estuda para procurar entender o que ocorreu mesmo e qual a profundidade do dedo do próprio imperialismo estadunidense nisso tudo, tal qual nas chamadas revoluções coloridas do leste asiático e mesmo as jornadas de junho de 2013 no Brasil – viria a ser mesmo a Síria, o país que mais enfrentamento faz aos Estados Unidos.
A partir de abril de 2011, a Síria passou a presenciar diversas manifestações em cidades grandes e médias, de pessoas que foram às ruas para protestar contra a “ditadura de Bashar” e pedir reformas e eleições livres. O presidente Bashar vinha sendo reeleito desde sua posse em 2000, com a morte de seu pai. A Síria tinha um governo patriótico e nacional, de frente ampla. Os dois partidos comunistas existentes no país tinham participação no governo com um ministério cada um deles. Existiam 11 partidos políticos funcionando livremente no país até então. A imprensa funcionava livremente, de forma regulada, como na maioria dos países capitalistas.
Bashar, percebendo a amplitude do movimento, foi sensível a isso e promoveu uma ampla reforma política, ampliando ainda mais a democracia dos sírios. Mais partidos foram legalizados – estima-se que hoje a Síria tenha 22 partidos funcionando. Mais órgãos de imprensa e comunicação foram criados. No entanto, parte dos manifestantes parecia estar interessado mesmo em derrubar um governo anti-imperialista e não estavam preocupados com democracia. Assim, de uma hora para outra, constatou-se a presença de pessoas portando armamentos nas manifestações que ocorriam.
Em uma situação dessas, não tem como um governo não reagir. Principalmente, se os armamentos que estavam sendo apreendidos pelo exército sírio eram armas pesadas, de uso exclusivo militar e mais do que isso: eram armas de uso dos Estados Unidos ou mesmo da Rússia. Falava-se á época que um fuzil AR-15 (americano) ou AK-47 (russo) custavam 200 dólares no mercado clandestino de armas e passaram a custar cerca de 1,5 mil dólares, em função da inflação dos preços motivado pelo derrame de bilhões de dólares da Arábia Saudita no financiamento de mercenários terroristas que começaram a atacar a Síria a partir das suas fronteiras.
Nestes mais de sete anos de agressões externas à Síria, foram detidos terroristas de 84 nacionalidades distintas, a maioria europeias. Na maioria, eram jovens fundamentalistas islâmicos sunitas, defensores de um estado Islâmico, atraídos pela organização terrorista que tem esse mesmo nome, mas que jamais foi nem estado, nem islâmico, pois o Islã jamais pregou a matança de cristãos e xiitas em seus preceitos. Ao contrário, o Islã prega a tolerância, em especial a proteção de cristãos e judeus.
A Síria hoje e suas perspectivas
Quase que se pode dizer, seguramente, que a Síria venceu a guerra. É bem verdade que pagou um elevado preço em vidas humanas (estima-se que meio milhão de pessoas tenham perdido a vida nos conflitos). Estima-se que dez milhões dos seus 22 milhões de habitantes, estejam deslocados de suas casas, na maioria porque as mesmas foram destruídas. Fala-se em pelo menos dois milhões que tiveram mesmo que sair do país, abrigando-se em algum país vizinho, vivendo como refugiados (Iraque e Líbano os aceitaram, menos as monarquias fascistas do Golfo).
Pode-se dizer que hoje não há mais praticamente nenhuma parte do território sírio que se encontra em mãos dos terroristas estrangeiros. Ainda que não goste desse termo, mas o que foi feito na Síria foi uma limpeza do país do que tinha de pior que havia um dia entrado nele, qual seja, terroristas que nada têm a ver com os árabes, financiados a peso de ouro pelas petromonarquias do Golfo. Os últimos a saírem foram os tais Capacetes Brancos (White Helmetes), que foram deportados para a Jordânia. Esses agentes do imperialismo pertencem a uma ONG dita humanitária, mas que na verdade ajudam a combater o exército sírio e fazem inclusive filmagens falsas para mostrar atrocidades que teríam sidas cometidas pelo exército.
Durante esses sete anos de conflitos a mídia internacional, à serviço de Israel e dos Estados Unidos, divulgou a falsidade de que na Síria ocorria uma “guerra civil” (sic), quando na verdade a Síria era atacada de fora para dentro por terroristas. Até os EUA de Trump praticamente reconheceram que perderam a guerra e vão retirar todo seu apoio, armamento e soldados em solo (no Vietnã demoraram 13 anos para reconhecer que perderam a guerra, depois de quase 60 mil dos seus soldados terem sido mortos e quase dois milhões de vietnamitas terem sido trucidados pelas armas estadunidenses).
Resta sabermos quem ganhou e quem perdeu nesse longo e sagrento conflito bélico. Do lado dos perdedores, as coisas são mais claras. Perderam a guerra os Estados Unidos, que sempre contaram com o apoio tático e de inteligência de Israel. Perderam ainda a Turquia, que agora manobra para mudar de posição e ver como se recompõe com os árabes e a própria Síria. Por fim, perderam todos os aliados europeus dos EUA e principalmente, as monarquias fascistas e reacionárias gos nove países “árabes” do Golfo, todos na verdade protetorados estadunidenses, tendo à frente a Arábia Saudita.
Mas quem venceu mesmo? Em primeiro lugar, claro, venceu o governo patriótico e nacionalista do presidente Bashar Al Assad, que, em 2014, havia sido reeleito em um pleito democrático com quatro candidatos e tendo obtido 88% dos votos. Bashar emerge hoje como um dos maiores estadistas mundiais no exercício do poder). Seu grande exército árabe sírio sai como grande vencedor. Esse exército que é considerado o melhor preparado e mais profissional em todo o mundo árabe.
Venceu o chamado Arco da Resistência, composto por, além da Síria, pelo Iraque e Líbano, que são países árabes e pelo Irã (país persa), que emerge como grande líder do Oriente Médio. Venceu também o Hezbolláh, Partido que participa do governo libanês, mas que tem também um grande exército de guerrilheiros altamente treinados e com elevada consciência anti-imperialista que lutaram na Síria (jamais saberemos quantos foram oficialmente, mas minha estimativa é que situam-se entre 10 e 20 mil soldados).
Por fim, temos a vitória da Rússia que, desde o início do conflito, sempre esteve ao lado do povo e do governo sírio. Seguramente, a Rússia ampliará a sua influência geopolítica não só na Síria, mas em outros países da região. Ela consolidará a sua base militar na cidade portuária de Tartus, no Mediterrâneo e na cidade de Hmeimim, na região Noroeste do país.
Também a China, que ficou um pouco mais distante do processo militar, mas deu total apoio ao governo Bashar, votando com a Rússia no Conselho de Segurança na ONU pela derrubada de resoluções contra a Síria sempre propostas pelos Estados Unidos. Esse país, que tem as maiores empreiteiras do mundo e que já atuam em muitos países, em especial na Nicarágua, onde constroem um canal muito maior que o do Panamá, tem total interesse na Reconstrução da Síria que se iniciará em breve.
Infelizmente, a mídia ocidental impede que ouvintes e leitores de seus jornais tenham a visão que aqui apresentamos. Eles mais confundem do que informam. Fazem propaganda na verdade. Recusam-se até hoje – nem todos, claro – de chamar o presidente eleito democraticamente de “presidente”. Referem-se ao presidente Bashar como “ditador” (sic) e ao seu governo como “regime sírio” (sic). Mas, a verdade está vindo à tona.
Daquela região, como já dissemos muitas vezes, está-se construindo uma nova ordem mundial. Um novo mundo multipolar está surgindo. E, em breve, vamos presenciar a sua edificação. E os que não entenderem isso, ficarão à margem da história.
*Sociólogo, escritor, pesquisador, professor e analista internacional. É colaborador da revista Sociologia da Editora Escala, e dos sites Duplo Expresso, Vermelho, Resistência e Fundação Grabois. Foi professor da UNIMEP por 20 anos. Presidiu o Sindicato dos Sociólogos do Estado de SP e a Federação Nacional dos Sociólogos. Tem nove livros editados, dos quais cinco sobre o Mundo Árabe.