Conflitos no Oriente Médio

Prof.Lejeune Mirhan - 08-07-2021 639 Visualizações

Para que se possa entender os conflitos existentes no Oriente Médio, em especial o conflito árabe-israelense, é preciso que se tenha um panorama geral do ponto de vista geo-político regional, da importância estratégica que os países dessa região.

A região comumente denominada de Oriente Médio (ou Oriente Próximo do ponto de vista geográfico dos europeus), é das mais estratégicas do planeta. A Palestina, cujas terras encontram-se praticamente no meio de toda essa região, desde a antigüidade foi local de passagem durante milhares de anos para caravanas de comércio. Nessa grande porção de terras unem-se praticamente três continentes: a Ásia, a Europa (pelo mar Mediterrâneo) e a África (pelo mar Vermelho).

Há nessa área porém alguns pontos em particular, onde é preciso deter-se mais atentamente sobre suas localizações geográficas, para um melhor entendimento do quanto é importante, do ponto de vista inclusive militar, o Oriente Médio[1].

A primeira delas é o estreito denominado Bab el Mandeb. Este fica entre o Estado de Djibuti e a República do Iêmen, no mar Vermelho (baHr aHmar). É também o local onde ocorre o estreitamento do Golfo de Áden, que banha não só o Iêmen, mas toda a costa oeste da Arábia Saudita e a costa leste de vários países da África. O mar Vermelho é a ligação fundamental para que se atinja o canal de Suez no Egito.

Essa porção de mar, representa uma linha de cerca de 50 Km, situada entre o 14º e 15º paralelos e os 12º e 14º meridianos. Por ali passam boa parte dos navios em direção à Europa e norte da África, vindos da parte sul do continente africano e asiático. Um estratégico elo de ligação.

Um segundo ponto estratégico da região é o Estreito de Ormutz, situado entre os países de Omã e Irã. É o ponto que liga o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico-Arábico. A distância em linha reta entre esses dois países é de cerca de 120 Km. Por esse ponto passam todos os navios para adentrar ao estratégico Golfo.

Por aí circulam todos os superpetroleiros das grandes companhias de petróleo, em especial os da Aramco - Cia Petrolífera da Arábia Saudita, maior país produtor de petróleo do planeta. Esse ponto fica entre o 26º e 28º paralelo e o 56º e o 58º meridianos.

Pelo menos uma de todas as 7 frotas navais da maior armada do planeta, a dos Estados Unidos, fica permanentemente na região marítima do Oriente Médio nas águas dos Golfos de Áden, o Pérsico-Arábico e o mar Vermelho.

O último dos três pontos mais importantes e estratégicos de todo o Oriente Médio é o Canal de Suez. Este canal, construído no século passado pelos ingleses e nacionalizado em 1956 pelo ex-presidente do Egito Gamal Abdel Nasser (falecido em 1970), é elo estratégico de ligação entre o mar Mediterrâneo e o mar Vermelho.

Tal canal separa o continente africano da região do Oriente Médio, na península do Sinai (região essa ocupada pelo Estado de Israel na guerra dos 6 dias de 67, mas devolvida ao Egito através dos acordos de paz de "Camp David" de 1979). Sua posição geográfica situa-se entre os paralelos e meridianos 30º e 35º. São praticamente 150 Km de terras e pequenos rios ligados artificialmente por canais e eclusas.

Pelos dados disponíveis, o mundo árabe hoje tem 235.022.000 de habitantes, ou seja, 4,69% de todos habitantes do planeta (de um total estimado de 5.003.500.000) e ocupam geograficamente 13.885.436 Km2 de terras descontínuas, representando l0,81% de todo o planeta[2].

A Guerra do Golfo e seus Gastos Absurdos

Uma das guerras e conflitos mais importantes ocorridos no Oriente Médio deu-se a partir da ocupação do Kuwait pelos exércitos iraquianos de Saddam Hussein, em agosto de 1990. A partir de uma extensa mobilização de tropas que envolveram 26 países e mais de 500 mil homens - fala-se na maior mobilização militar pós-IIª Grande Guerra, os Estados Unidos, sob a presidência de George Bush, resolve deflagrar a famosa Guerra do Golfo, em janeiro de 1991.

Cabe destacar nesta matéria, para que se tenha um conhecimento panorâmico dos seus resultados, alguns aspectos dessa guerra, que matou mais de 200 mil civis iraquiano e não foi tão “cirúrgica” assim, conforme os meios de comunicação de massa bombardearam as pessoas em todo o mundo.

São contraditórios e díspares os números apresentados por diversos órgãos sobre o montante de dólares gasto com os praticamente 100 dias da guerra no golfo de 90/91. Ainda que os Estados Unidos aleguem que ratearam entre seus aliados a maior parte das despesas dessa empreitada militar, foram eles que arcaram com praticamente todo o ônus da guerra.

Os EUA mobilizaram para a guerra no golfo, entre tanques e aviões de diversos modelos, em termos patrimoniais, o montante de US$109,695 bilhões de dólares. Isso levando-se em conta uma média de US$42,033 milhões de dólares por aeronave e US$4,400 milhões por tanque[3].

Os países chamados "aliados" dos Estados Unidos, na sua campanha "libertadora" pelo Kuwait, de propriedade do Emir Jabr Al-Sabah, mobilizaram ao todo 3.360 tanques, 2.258 aviões e 175 navios. Todos mais modernos do mundo, com os recursos mais sofisticados. Isso sem falar nos 550.550 soldados, dos quais mais de 400 mil americanos e dos mais bem treinados também. Nessa aventura de guerra, sob o pretexto de "libertar" o Kuwait, ocuparam militarmente a Arábia Saudita, que hoje encontra-se transformada em base militar americana[4].

Os custos estimados dessa guerra, declarados oficialmente pelos Estados Unidos, fora equipamentos perdidos na batalha, são da ordem de US$53,472 bilhões de dólares. Isso levando-se em conta gastos com transportes, salários dos militares, manutenção dos equipamentos, combustíveis, munição, construções, pensões e indenizações. Ainda que elevado, tal montante é sempre estimativo, pois é praticamente impossível quantificar despesas de uma guerra[5].

A Direção Geral de Contas dos Estados Unidos alega ter gasto na guerra "apenas" US$61,100 bilhões de dólares. Esse número no entanto, é contestado pela Sociedade de Bancos Suíços, que estimou o custo geral da guerra no golfo em no mínimo US$200 bilhões de dólares, podendo chegar a casa de US$300 bilhões nos cem dias de guerra. Aí nesse cálculo já incluem as despesas civis causadas contra o povo do Iraque[6].

Finalmente, cálculos feitos pela Liga dos Estados Árabes, Fundo Monetário Árabe, OPAEP, e outros organismos árabes, calculam os custos totais da guerra em mais de US$610 bilhões de dólares, sendo que desse total, US$190 bilhões são por causa das destruições civis no Iraque e US$160 bilhões pelo mesmo motivo no Kuwait, US$130 bilhões por conta das despesas dos aliados, US$120 bilhões em equipamentos perdidos na guerra pelo Iraque e os restantes US$10 bilhões de ajuda para os países árabes da Síria e Egito[7].

Porque Saddam não caiu?

Goste ou não goste de Saddam Hussein, o fato concreto é que, completado 2 anos do término da guerra, todas as potências que se aliaram contra ele tiveram seus líderes substituídos ou desgastados politicamente. É o caso de Margareth Thatcher, ex-Primeira Ministra da Inglaterra, George Bush, ex-presidente dos Estados Unidos e derrotado nas urnas pelo povo americano, Mikhail Gorbatchev, afastado do poder na ex-URSS e finalmente Itzshak Shamir, ex-premiê de Israel, derrotado pelos trabalhistas. O ainda presidente François Miterrand, da França, amargou com o seu Partido "Socialista" em março de 93, a maior derrota eleitoral dos últimos 20 anos.

Quanto a isso, Saddam Hussein só tem a comemorar, pois continua razoavelmente bem posicionado no poder do Iraque. A sua permanência à frente do governo iraquiano, empanou o brilho da campanha militar que Bush havia empreendido contra o Iraque e quando sua popularidade havia atingido a níveis inéditos da história dos Estados Unidos. Os adversários de Bush nas eleições americanas usaram muito esse argumento durante a campanha eleitoral[8]. Mas por que afinal, depois de tudo isso, Saddam não caiu?

Após o término da guerra, foram basicamente 3 os argumentos que comumente eram listados como explicativos pelo fato de Saddam não ter caído ou não ter sido deposto pelo exército americano, que, em tese, poderia marchar até Bagdá e derrubar o ditador.

O primeiro deles, é que as tropas norte-americanas, as que ficaram na linha de frente da "libertação" do Kuwait, sofreriam um nível de baixas muito além das previsíveis, e inaceitáveis pela opinião pública americana. Isso de fato tem um fundo de razão, na medida que a tropa de elite iraquiana, a Guarda Republicana, que não ocupava o Kuwait, havia recuado para as cercanias de Bagdá, com o objetivo de proteger a capital do país de uma possível guerra terrestre. Esse seria um território francamente hostil aos EUA e talvez não fosse mesmo conveniente chegar até a capital.

Um segundo aspecto que se ressalta, foi o de que os países aliados dos Estados Unidos poderiam deixar a coligação imperialista nessa empreitada, pois a invasão do Iraque não estava "autorizada" (sic) pela ONU. Também tem procedência tal argumentação, na medida que particularmente em relação aos países árabes da coligação anti-Iraque (Síria, Egito e Arábia Saudita, só para listar os mais importantes), deixaram isso claro em diversas comunicados de seus ministros militares e de exterior.

A Síria chegou a declarar que havia mandado soldados para a guerra, mas apenas para "proteger" a Arábia Saudita de uma eventual tentativa de "invasão" desse país pelo Iraque. Também aqui, registre-se, os soldados sírios e árabes em geral, ficaram estacionados em Riad, não marchando pelo Kuwait ou mesmo adentrando ao sul do Iraque como fez o exército americano.

Um terceiro argumento, também sempre citado pelos analistas internacionais, foi o fato que a administração Bush confiava na possibilidade de Saddam Hussein ser destituído a partir de um golpe militar internamente no próprio Iraque, ou eventualmente uma rebelião interna no seu Partido, o Húzb BaAáas (Partido do Renascimento).

Nessa questão, a grande imprensa internacional fez bastante alarde. Noticiou reuniões de oposicionistas, sheiks, califas, emires, sultões, "líderes", paxás, mulás, aiatolás, e outros tipos, para mostrar uma certa "força" da oposição. Falou-se em Conferência Iraquiana da Oposição em Beirute, realizada em março de 91, onde a delegação de mais de 400 jornalistas que cobriram o evento era maior do que os minguados 200 participantes.

Segundo o jornalista Charles Richards, do "The Independent", "...uma das estratégias adotadas durante a guerra no golfo, foi a de criar circunstâncias para um golpe dentro da elite sunita e de dar apoio às revoltas populares dos curdos ao norte e dos xiitas ao sul"[9].

Também nesse aspecto, não se verificou a estratégia americana. Quem conhece um pouco da história e da realizada iraquiana, sabe que, diferente da Síria, por exemplo, o caso do Iraque é um exemplo que ilustra bem o aspecto de "Partido no Poder" e não apenas "Partido do Poder". Em outras palavras: o Partido Socialista Árabe Sírio, o BaAáas, no governo na Síria e Iraque, tem no país de Saddam forte penetração popular e raízes nas entidades de massa.

Tal Partido, que funciona como uma espécie de Partido da Nação Árabe de caráter internacional, possuem seções em todos os países do Oriente Médio. Seu ideário prega uma linha nacionalista radical, de conteúdo marcadamente anti-imperialista. Seu discurso apregoa propostas socializantes (não necessariamente marxistas). Defende um modelo de Estado estatizante (quase tudo no Iraque pertence ao Estado).

No caso do Iraque, o que se vê é de fato o "Partido no Poder" e na Síria, pelas condições políticas que se apresenta, acaba sendo o "Partido do Poder". Assim, ainda que ambos os países não vivam situações de plenas liberdades políticas e de vigências de direitos democráticos de seus povos, no Iraque a mobilização e a conscientização popular anti-imperialista é incomparavelmente maior que na Síria.

Mais recentemente, Robert Gates, ex-diretor da CIA no governo Bush, em entrevista à imprensa mundial quis acrescentar mais uma quarta explicação do por que o governo iraquiano continua firme. Disse que os americanos "pouparam" Saddam, pelo fato que não queriam que acontecesse o mesmo que ocorreu com Manoel Noriega, do Panamá, que entrou para a clandestinidade e acabou sendo transformado em herói para a população de seu país (sic)[10].

De fato, pode-se dizer que a ocupação militar do sul do Iraque pelos Estados Unidos, região essa onde a corrente xiita do islamismo é forte, pode ter enfraquecido o governo do Iraque. Os aiatolás iranianos, que disputam a liderança no Oriente Médio com Saddam, incentivaram rebeliões da população da província de Basra. A imprensa deu ampla cobertura a esses eventos.

Um embargo aéreo foi decretado pelo governo americano, posteriormente apoiado pelo Conselho de Segurança da ONU. Os pouco mais de 300 aviões militares que restaram ao Iraque estão proibidos de realizar vôos abaixo do paralelo 32 e acima do paralelo 36. Um flagrante desrespeito à soberania iraquiana. Isso pretendia facilitar ainda mais um possível levante contra o governo.

É preciso destacar no entanto, que a tomada do poder no Iraque por grupos islâmicos fundamentalistas apoiados por Teerã, não é de interesse de nenhum governo imperialista do mundo. Não se trata aqui de abordar a questão da religião muçulmana, sobre o eventual fanatismo de seus seguidores. No entanto, é preciso destacar que dentre todas as correntes religiosas existentes, esta é a que tem demonstrado entre seus seguidores, maior disposição política de enfrentar o imperialismo, em particular o americano.

O que se escreve sobre a realidade iraquiana, não se leva em conta, - ou não se quer levar - que de fato o presidente do Iraque tem o controle efetivo das suas forças armadas e possui influência nas entidades populares e de massa de seu país. Por isso tem conseguido suportar o boicote e o embargo econômico das potências decretado pela ONU[11].

O analista internacional Alberto Garcia Meder, da Agência espanhola EFE, não fica corado ao escrever sobre os bombardeios à Bagdá "...que os estrategistas do Pentágono não vão perder a oportunidade de terminar um serviço que deixaram incompleto na guerra do golfo..." (sic)[12].

Não será possível prever com certeza o desfecho da situação política do Iraque e o destino de seus governantes. No entanto, parece ficar claro que o governo forte de Saddam Hussein tem encontrado em seu país entre o seu e entre os povos árabes do Oriente Médio, um forte apoio político.

Pode-se dizer que as idéias expressas pelo governo iraquiano, encontram respaldo entre os povos árabes. As suas idéias patrióticas, de nacionalização do petróleo, da luta anti-imperialista ou em outras palavras, a defesa do pan-arabismo do ex-presidente Gamal Abdel Nasser encontra no presidente iraquiano um firme defensor.

O Oriente Médio Depois da Guerra no Golfo

Goste ou não goste de Saddam Hussein, o fato concreto é que completado 6 anos do término da guerra, todas as potências que se aliaram contra ele tiveram seus líderes substituídos ou desgastados politicamente. É o caso de Margareth Thatcher, ex-primeira Ministra da Inglaterra, George Bush, ex-presidente dos Estados Unidos e derrotado nas urnas pelo povo americano, Mikhail Gorbatchev, afastado do poder na ex-URSS e finalmente Itzshak Shamir, ex-premiê de Israel, derrotado pelos trabalhistas (posteriormente, em 96 os trabalhistas voltaram a ceder o lugar no governo para o Likud, tendo vencido as eleições o atual premiê Benjamin Netanyahu). O presidente François Miterrand, ainda no poder na França, amargou com o seu Partido "Socialista" em março de 93, a maior derrota eleitoral dos últimos 20 anos (vindo a falecer também em 96).

Quanto a isso, Saddam Hussein só tem a comemorar, pois continua razoavelmente bem posicionado no poder do Iraque. De fato, a sua permanência no poder, empanou o brilho da campanha militar que Bush (ao qual o atual presidente Clinton continua tentando derrubar, mas não tem conseguido) havia empreendido contra esse país árabe e quando sua popularidade havia atingido a níveis inéditos da história dos Estados Unidos. Os adversários de Bush nas eleições americanas usaram muito esse argumento durante a campanha eleitoral[13]. Mas por que afinal, depois de tudo isso, Saddam não caiu?

Após o término da guerra, foram basicamente 3 os argumentos que comumente eram listados como explicativos pelo fato de Saddam não ter caído ou não ter sido deposto pelo exército americano, que, em tese, poderia marchar até Bagdá e completar o "serviço".

O primeiro deles, é que as tropas norte-americanas, as que ficaram na linha de frente da "libertação" do Kuwait, sofreriam um nível de baixas muito além das previsíveis, e inaceitáveis pela opinião pública americana. Isso de fato tem um fundo de razão, na medida que a tropa de elite iraquiana, a Guarda Republicana, que não ocupava o Kuwait, havia recuado para as cercanias de Bagdá, com o objetivo de proteger a capital do país de uma possível guerra terrestre. Esse seria um território francamente hostil aos EUA e talvez não fosse mesmo conveniente chegar até a capital.

Um segundo aspecto que se ressalta, foi o de que os países aliados dos Estados Unidos poderiam deixar a coligação imperialista nessa empreitada, pois a invasão do Iraque não estava "autorizada" (sic) pela ONU. Também tem procedência tal argumentação, na medida que particularmente em relação aos países árabes da coligação anti-Iraque (Síria, Egito e Arábia Saudita, só para listar os mais importantes), deixaram isso claro em diversas declarações de seus ministros militares e de exterior.

A Síria chegou a declarar que havia mandado soldados para a guerra, mas apenas para "proteger" a Arábia Saudita de uma eventual tentativa de "invasão" desse país pelo Iraque. Também aqui, registre-se, os soldados sírios e árabes em geral, ficaram estacionados em Riad, não marchando pelo Kuwait ou mesmo adentrando ao sul do Iraque como fez o exército americano.

Um terceiro argumento, também sempre citado pelos analistas internacionais, foi o fato que a administração Bush confiava na possibilidade de Saddam Hussein ser destituído a partir de um golpe militar internamente no próprio Iraque, ou eventualmente uma rebelião interna no seu Partido, o Húzb Baas (Partido do Renascimento).

Nessa questão, a grande imprensa internacional fez bastante alarde. Noticiou reuniões de oposicionistas, sheiks, califas, emires, sultões, "líderes", paxás, mulás, aiatolás, e tantos outros menos votados, para mostrar uma certa "força" da oposição. Falou-se em Conferência Iraquiana de Oposição em Beirute, realizada em março de 91, onde a delegação de mais de 400 jornalistas que cobriram o evento era maior do que os minguados 200 participantes.

Segundo o jornalista Charles Richards, do "The Independent", "...uma das estratégias adotadas durante a guerra no golfo, foi a de criar circunstâncias para um golpe dentro da elite sunita e de dar apoio às revoltas populares dos curdos ao norte e dos xiitas ao sul"[14].

Também nesse aspecto, não se verificou a estratégia americana. Quem conhece um pouco da história e da realizada iraquiana, sabe que, diferente da Síria, por exemplo, o caso do Iraque é um exemplo que ilustra bem o aspecto de "Partido no Poder" e não apenas "Partido do Poder". Em outras palavras: o Partido Socialista Árabe Sírio, o Baas, no governo na Síria e Iraque, tem no país de Saddam forte penetração popular e raízes nas entidades de massa.

Tal Partido, que funciona como uma espécie de Partido da Nação Árabe de caráter internacional, possui seções em todos os países do Oriente Médio. Seu ideário prega uma linha nacionalista radical, de conteúdo marcadamente anti-imperialista. Seu discurso apregoa propostas socializantes (não necessariamente marxistas). Defende um modelo de Estado basicamente estatizante (praticamente tudo no Iraque pertence ao Estado).

No caso do Iraque, o que se vê é de fato o "Partido no Poder" e na Síria, pelas condições políticas que se apresenta, acaba sendo o "Partido do Poder". Assim, ainda que ambos os países não vivam situações de plenas liberdades políticas e de vigências de direitos democráticos de seus povos, no Iraque a mobilização e a conscientização popular anti-imperialista é incomparavelmente maior que na Síria.

Robert Gates, ex-diretor da CIA no governo Bush, em entrevista à imprensa mundial quis acrescentar mais uma quarta explicação ao fato que o governo iraquiano continua firme. Disse que os americanos "pouparam" Saddam, pelo fato que não queriam que acontecesse o mesmo que ocorreu com Manoel Noriega, do Panamá, que entrou para a clandestinidade e acabou sendo transformado em herói para a população de seu país (sic)[15].

De fato, pode-se dizer que a ocupação militar do sul do Iraque pelos Estados Unidos, região essa onde a corrente xiita do islamismo é forte, pode ter enfraquecido enfraquecer o governo do Iraque. Os aiatolás iranianos, que disputam a liderança no Oriente Médio com Saddam, incentivaram rebeliões da população da província de Basra. A imprensa deu ampla cobertura a esses eventos.

Um embargo aéreo foi decretado pelo governo americano, posteriormente com apoio do Conselho de Segurança da ONU. Os pouco mais de 300 aviões militares que restaram ao Iraque estavam proibidos de realizar vôos abaixo do paralelo 32 e acima do paralelo 36 (posteriormente estendida para uma área maior do território iraquiano). Um flagrante desrespeito à soberania iraquiana. Isso pretendia facilitar ainda mais um possível levante contra o governo.

É preciso destacar no entanto, que a tomada do poder no Iraque por grupos islâmicos fundamentalistas apoiados por Teerã, não é de interesse de nenhum governo imperialista do mundo. Não se trata aqui de abordar a questão da religião muçulmana, sobre o eventual fanatismo de seus seguidores. No entanto, é preciso destacar que de todas as correntes religiosas existentes, esta é a que tem demonstrado entre seus seguidores, maior disposição política de enfrentar o imperialismo, em particular o americano.

O que se escreve sobre a realidade iraquiana, não se leva em conta, ou não se quer levar, que de fato o presidente do Iraque tem o controle efetivo das suas forças armadas e possui influência nas entidades populares e de massa de seu país. Por isso tem conseguido suportar o boicote e o embargo econômico das potências decretado pela ONU[16].

Os tais analistas internacionais, entre eles Alberto Garcia Meder, da Agência espanhola EFE, não ficou corado ao escrever sobre os bombardeios de janeiro de 93 à Bagdá "...que os estrategistas do Pentágono não vão perder a oportunidade de terminar um serviço que deixaram incompleto na guerra do golfo..." (sic)[17].

Não será possível prever com certeza o desfecho da situação política do Iraque e o destino de seus governantes. No entanto, parece ficar claro que o governo forte de Saddam Hussein tem encontrado em seu país e nos povos árabes do Oriente Médio, um forte apoio político. Pode-se dizer que as idéias expressas pelo governo iraquiano, encontram respaldo entre os povos árabes. As idéias nacionalistas e patrióticas, de nacionalização de seu petróleo, de luta anti-imperialista ou em outras palavras, a defesa do pan-arabismo do ex-presidente Gamal Abdel Nasser encontra no presidente iraquiano um firme defensor.

A Geo-Política do Petróleo

A região do Oriente Médio não é estratégica apenas pela sua localização, pela situação como encontramos os seus mares, terras e canais, mas fundamentalmente pelas suas reservas provadas e inferidas de petróleo.

O planeta ainda hoje é movido praticamente por energia derivada do petróleo. Ainda que existam energias alternativas e se façam pesquisas sobre a sua substituição - como é o caso do "Programa do Álcool" no Brasil - não há possibilidade deste vir a ser substituído, pelo menos nos próximos 20 anos. Como muitos países industrializados estão com suas reservas praticamente esgotadas, é preciso então, sob a ótica imperialista, controlar o petróleo dos outros.

Sabe-se que o petróleo como fonte de energia, deverá estar esgotado, segundo os mais otimistas, nos próximos 35 anos no máximo. Os mais pessimistas - e defensores de energias alternativas e menos poluentes - acreditam que o esgotamento ocorrerá nos próximos 15 anos. Isso significa, nesta última visão, que a partir do ano de 2008, a humanidade deverá ter que investir na prospecção de tipos de petróleo e seus derivados, mais caros, do tipo não convencional, como xistos, areias betuminosas, óleos pesados, que demandam investimentos de mais de US$100,000.00 por barril/dia, quando hoje a Arábia Saudita extrai petróleo com investimento de no máximo US$10,000.00 por barril/dia[18].

Segundo Nicolas Sarkis, diretor do Centro Árabe de Estudos do Petróleo, as reservas mundiais do óleo provadas e inferidas, situam-se hoje (excluindo-se as reservas não descobertas), na casa de 635 bilhões de barris, e os países árabes detém 62,4% desse total (396 bilhões de barris) e ainda controlam 21% das reservas mundiais de gás natural[19].

Dos 13 países mais desenvolvidos da terra, estes produzem apenas 34,04% de todo o petróleo que consomem. Dos 6,8 bilhões de barris que importam, 1,9 bilhões vem dos países árabes (18,38%). O Brasil está entre os países que importam elevadas quantias das suas necessidades (65%), como também a Itália (50%) e a Índia (com 48%)[20].

As grandes empresas petrolíferas de petróleo existentes no planeta, conhecidas popularmente como "As Sete Irmãs", são na verdade dez grandes empresas. Dessas, 8 são americanas e apenas 2 são inglesas. Tais empresas, possuem as "suas reservas" petrolíferas e boa parte desses "reservas" provém de áreas cedidas por alguns países árabes, cuja exploração ocorre sob a forma de "contratos de risco"[21].

As reservas exploradas pelas 10 gigantes petrolíferas são da ordem de 35 bilhões de barris comprovados. De todo esse petróleo explorado por essas empresas, pode-se dizer que de cada 4 barris extraído do solo ou do mar, 1 é árabe ou persa e vem do Oriente Médio ou do norte da África. Isso traduzido em dólares (com dados de 89), significou que dos US$404,8 bilhões de dólares faturados por todas essas empresas, US$104,51 bilhões vieram dos países árabes ou persa, significando ainda um lucro líquido vindo do Oriente Médio da casa de US$9,233 bilhões. Tal riqueza não fica à disposição dos países exportadores[22].

Os dados disponíveis nos informam que empresas como a Texaco, obtém 92% de todo o seu petróleo no mundo árabe, assim como a Exxon, com 38% do total, a Atlantic com 32%, a USX, com 31% e a Shell, com 29% da sua produção vindo do Oriente Médio.

Na questão da exploração propriamente dita, entendido esse termo neste caso no sentido de tirar a riqueza de um povo e enviar para outro, também nesse caso os países árabes fazem um mau negócio. Especialmente aqueles cujas reservas são exploradas pelas companhias petrolíferas internacionais. Com a queda acentuada dos preços do óleo desde 1986, e o acréscimo e criação de diversas taxas nos países industrializados, acabaram por acarretar uma maciça transferência da renda do petróleo dos países produtores para os países consumidores. Estima-se que no período de 1986-1992, foram transferidos cerca de US$320 bilhões de dólares[23].

Segundo o professor José Walter Bautista Vidal, são dois tipos de países árabes: "...do ponto de vista do controle das reservas do petróleo, podemos classificar os países localizados no Oriente Médio em duas categorias. Na primeira estão aqueles em que as reservas de petróleo são concessões, por longo prazo, a corporações transnacionais de origem norte-americana e inglesa. Entre esses estão o Kuwait, Omã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, entre outros. Na segunda categoria estão os países em que o petróleo é patrimônio de seus povos..."[24]. Neste último bloco, encontram-se países como o Iraque, a Argélia, a Tunísia, o Iêmen, o Sudão, a Líbia, etc.

Em relação às reservas petrolíferas do mundo já comprovadas, junto com as inferidas e as não-descobertas, observa-se que, envolvendo 10 países exportadores de petróleo, os árabes detêm 466,1 bilhões de barris, o que significa 43,60% do conjunto, ou ainda 452,59% a mais que os Estados Unidos. Aqui não estão computados ainda as reservas de países árabes menores, mas também produtores, como Omã, Argélia, Tunísia, Síria, Egito, etc.

Nessa situação, a ocupação do Kuwait desencadeada por Saddam Hussein em agosto de 1990, sob o argumento que este país era a sua 19ª província, gerou de fato uma desestabilização na questão do controle das reservas petrolíferas mundiais. O Iraque estaria assim controlando quase 20% de todo o petróleo do mundo e poderia expandir-se para os micro-estados árabes do golfo e mesmo para a Arábia Saudita, podendo, se isso ocorresse, vir a controlar mais de 50% das reservas mundiais.

Prossegue o professor Bautista Vidal "...como os países árabes controlam acima da metade das reservas restantes do petróleo recuperável do mundo, eles e somente eles, serão capazes de promover a partir do ano 2000, um aumento proporcional do mercado mundial. Esta foi a principal razão da guerra de janeiro/fevereiro de 91, no golfo..." [grifos nossos][25].

Em todo o planeta, movimenta-se por ano US$460 bilhões de dólares na remuneração do petróleo produzido. Se se acrescentar a isso os derivados e o ramo petroquímico, transportes e toda a comercialização auxiliar, esses valores atingem a quase US$2 trilhões de dólares ao ano.

Ora, com a aproximação do fim da era do domínio dos estados Unidos na indústria do petróleo e com o crescimento das empresas estatais (revista "Petroleum & Energy Inteligence", janeiro, 91), editoriais de revistas e jornais internacionais especializadas vem estimulando a privatização do petróleo nacionalizado (revista "Offshore", janeiro, 90).

Com a recente elevação da produção petrolífera da Arábia Saudita para patamar superior a 8,3 milhões de barris/dia, resultando num preocupado editorial da revista "World Oil" (dezembro de 90), quando se pensava que esta só conseguiria atingir 7 milhões, conclui-se que a questão do petróleo é também uma questão do poder. "A geo-política do petróleo é um capítulo da geo-política da dominação"[26].

Hoje é uma realidade o ressurgimento do poder dos árabes, povos de cultura milenar fortemente enraizada e acrescentando-se aí a força religiosa do Islã, de conteúdo marcadamente anti-imperialista, o confronto com as grandes potências industriais-militares é praticamente inevitável[27].

Conclui-se que de todo o petróleo original recuperável, cerca de 600 bilhões de barris estão disponíveis, sendo que 21% encontram-se do lado ocidental (126 bilhões), e os Estados Unidos detém apenas 5% (30 bilhões), a ex-URSS detém 13% (78 bilhões) e os países da OPEP 56% (ou 336 bilhões)[28].

Pode-se dimensionar a importância estratégica mundial do petróleo, quando se trabalha com o cálculo da produção e do consumo mundial. O consumo de um ano de todo o planeta é estimado em 20 bilhões de barris. Pelos números que se tem, as reservas de óleo americana dariam para abastecer o planeta por apenas 1 ano e 6 meses, as da ex-URSS para 3 anos e 9 meses, enquanto as reservas da OPEP, o cartel do óleo, dariam para asseguram o consumo de todo o mundo por 16 anos e 8 meses. Com isso dá para se ter uma clara noção da importância estratégica do petróleo árabe.

Os árabes têm se mostrado imensamente superiores aos americanos na questão do petróleo. Isso pode ser medido apenas pelo item da produtividade. Pelos dados disponíveis em 89, a Arábia Saudita possuía apenas 858 super-poços petrolíferos, enquanto que os Estados Unidos tinham 612.448 poços. Cada poço saudita produziu nesse ano uma média diária de 5.668,4 barris/dia, contra apenas 12,5 barris/dia dos poços americanos. As reservas sauditas do óleo são da ordem de 257,5 bilhões, ou seja, 898,06% maiores que dos Estados Unidos[29].

Em tempo: a questão do petróleo é tão conflitiva, que quando da decretação do primeiro choque do petróleo em 1973, quando o barril do óleo era comercializado a US$2.70 e pulou para US$11.20 em 74, chegando a US$34.20[30], chegou a ter início um conflito que poderia ter envolvido as duas grandes potências, EUA e URSS. Nos conflitos dos reféns da embaixada americana de Teerã de 79, chegou a haver mobilização dos efetivos militares da OTAN e do Pacto de Varsóvia[31].

Os Problemas do Oriente Médio e a Questão Democrática

Persistem os problemas e os conflitos na região do Oriente Médio. Não é objetivo do presente trabalho, aprofundar a questão palestina, um dos problemas mais centrais da região. No entanto, a expulsão já mencionada no capítulo anterior, alterou os rumos dos acontecimentos.

É lamentável que a deliberação por parte do governo israelense de expulsar palestinos de suas terras, tenha contado inclusive com o apoio de 3 partidos de "esquerda", que possuem 12 deputados no parlamento de Israel (Knesset) e integram a coalizão governista do primeiro ministro Itzshak Rabin. Tais organizações participam da frente denominada "Meretz" e assinaram a ordem de deportação e degredo[32].

Segundo ainda o jornalista francês, Alain Gresh, do "Le Monde Diplomatique", "...a repressão na Cisjordânia e Gaza é a mais sangrenta que jamais se viu...a expulsão de 415 palestinos muçulmanos para o Líbano, que não são acusados ou culpados de nem mesmo um crime, é um ato sem precedentes desde 1967..."[33].

Mas não são só os problemas palestinos que aumentam. Mesmo entre os países que se alinharam com os Estados unidos na guerra contra o Iraque, há problemas e divergências. Os micros Estados de Bahrein, Omã, Catar, integrantes do Conselho de Cooperação do Golfo, engalfinham-se em conflitos fronteiriços, apesar de serem extremamente pequenos. Segundo um analista político francês, citado pelo jornalista Olivier Lage, "...a região do golfo é hoje mais vulnerável do que antes da invasão do Kuwait..."[34].

A propalada democratização que deveria ter ocorrido no Kuwait após o fim da guerra, não saiu do papel. As eleições realizadas após a guerra, não garantiu o acesso ao voto para a grande maioria da população. A família Al-Sabah, continua dominando todo o Emirado. Segundo Gilles Kraemer, "...quanto à Lei eleitoral kuwaitiana, só tem direitos políticos os kuwaitianos de primeira classe, ou seja, pessoas cujas famílias estejam instaladas no país desde antes de 1920..."[35].

De todos os países do mundo árabe no Oriente Médio e Norte da África, 8 são monarquistas, todos eles praticamente feudais e absolutistas. O modelo de tipo capitalista implementado nesses países, é ainda incipiente. Praticamente tudo o que se consome é importado dos europeus e dos americanos. Não há indústria de base, de produção de maquinaria pesada. O produto que dita as regras da economia é o petróleo e sua poderosa indústria. Os príncipes, emires, reis e sultões, gastam todas as suas riquezas e as advindas do lucro do petróleo, em outros países.

Só para se ilustrar como é pouca a democracia no Oriente Médio, pode-se ver o exemplo da arábia Saudita, onde o rei Ibn Saud, presta conta, se quiser, a um Conselho Consultivo integrado em sua maioria por membros da "família real". No Kuwait, a família real que "governa" o país é composta de mais de 2.000 príncipes. Pela observação do Quadro IV, pode-se ter uma noção exata de pouca democracia existente no Oriente Médio, pela longevidade dos chefes de Estado dos países árabes. Mesmo nas repúblicas árabes, os presidentes praticamente não são eleitos pelo voto direto, como nas democracias ocidentais[36].

Há problemas ainda no Oriente Médio, com relação à militarização dos países. Praticamente com a destruição do poder militar do Iraque, outros países na região cresceram militarmente. Ao Iraque, restaram 382.500 homens, de um total de mais de 1 milhão antes da guerra. Restaram ainda 703 tanques, de um total anterior à guerra de mais de 4.000. Sobraram ainda 1.403 blindados (50% de antes da guerra) e 340 peças de artilharia (10% de antes da guerra)[37].

Nesse quadro, de país mais militarizado do Oriente Médio, entre os árabes, o Iraque passa a 3º lugar, perdendo em termos de tamanho de seus exércitos para o Egito, com 420.000 homens, e para a Síria, com 404.000 homens[38].

Só para se ter uma idéia do índice de militarização dos países árabes, pode-se fazer uma rápida comparação com a maior potência militar do planeta, que são os Estados Unidos. Nesse país, existe um soldado para cada grupo de 126,22 habitantes. No mundo árabe, que reúne nos 21 países, mais de dois milhões de homens em armas (somente nas forças armadas, fora as polícias), o índice de militarização é da casa de um soldado para cada grupo de 107,98 habitantes, ou seja, 16,89% a mais do que os EUA

Mas, há casos de militarização impressionantes, até mesmo para países de total controle pelas suas forças armadas. São os casos da Síria (um soldado para 31,01 habitantes), da Jordânia (um para 32,42), dos Emirados Árabes Unidos (um para 44,20), etc. Pode-se dizer que o país menos militarizado é o Sudão, que apesar de seu imenso território, possui um soldado para 407,39 habitantes.

O maior problema em toda a região continua sendo o de terras. E Israel sabe que é o centro de todos os conflitos e responsável pelo elevado grau de tensão na região. Isso porque, este país persiste em ocupar militarmente, não somente as terras palestinas designadas pela ONU desde o plano de partilha aprovado em 29 de novembro de 1947, mas ocupa terras de praticamente todos os seus vizinhos, como o Líbano (ao sul, numa faixa territorial de 10 Km), com a Jordânia, com o Egito (problemas pendentes na península do Sinai) e com a Síria (ocupa as estratégicas Colinas de Golã).

Sobre as Colinas de Golã, é importante que se detenha um pouco. Tais Colinas estão situadas a cerca de 60 Km da capital administrativa de Israel, que é Tel Aviv. Sabe-se que a Síria possui hoje mais de mil tanques soviéticos modelos T-62 e T-72, dos mais modernos. Chegam a atingir em linha reta, mais de 100 Km/h e transportam, com conforto, seis soldados, possuem mira a laser, etc. Israel sabe que, numa situação hipotética, se uma fileira de centenas de tanques perfilarem-se no alto dessas colinas e, mesmo que em "ponto morto", apenas com o embalo do declive geográfico, descessem a Colina, bastariam a essa fileira de tanques, de 15 a 20 minutos para atingir a Capital israelense. Por isso, é pouco provável que Israel devolva Golã para os sírios.

As negociações para a tentativa de paz em toda a região, iniciadas na Conferência de Madrid em outubro de 1991, patrocinada pela ONU, EUA e então URSS, deverão ter o seu prosseguimento em 20 de abril em Washington (se não forem suspensas). Todos devem reivindicar as suas terras de volta, tomadas por Israel.

A estratégia israelense é tentar negociar acordos em separado, quebrando uma certa unidade árabe conseguida até o presente momento. Fala-se em acordos bilaterais com a Síria, Líbano, etc., numa tentativa de isolar os palestinos e sua entidade representativa, que é a OLP

Sejam observadores internacionais idôneos, jornalistas, estudiosos da questão, todos sabem, sem exceção, que a paz só poderá ser estabelecida em toda a região com a concessão feita pelo Estado de Israel. E a paz só virá com a devolução das terras árabes ocupadas. Mesmo assim, ainda será preciso muito conversação para que ela seja alcançada.

Por tudo que se viu no presente trabalho, as previsões são as mais pessimistas. Em função da posição geográfica da região, em função da quantidade de petróleo nas mãos dos árabes, em função da crescente militarização de toda a área, e dos interesses americanos e imperialistas em geral no Golfo Pérsico-Arábico e Oriente Médio em geral, pode-se esperar o pior.

Não são um, nem dois analistas internacionais que prevêem a eclosão de um novo conflito de grandes proporções no mundo. E todos acabam sendo unânimes em afirmar que tal conflito deverá passar pelo Oriente Médio, região estratégica do planeta.

 

Bibliografia de Apoio Recomendada

AKCELRUD, Isaac, "O Oriente Médio", Atual Editora, SP;

CHALITA, Mansour, "Esse Desconhecido Oriente Médio", Editora Revan, RJ;

CHALITA, Mansour, "Os Árabes", Editora Acigi;

FRIEDMAN, Thomas L., "De Beirute a Jerusalém", Editora Bertrand do Brasil, RJ;

GIODANI, Mário Curtis, "História do Mundo Árabe Medieval", Vozes, RJ;

MAALOUF, Amin, "As Cruzadas Vista Pelos Árabes", Brasiliense, SP;

MILLER, Judith & MYLROE, Laurie, "Saddam Hussein e a Crise no Golfo",

Editora Scritta;

SAID, Edward, "Orientalismo: O Oriente Como Invenção do Ocidente", Cia.

das Letras, SP;

SALEM, Helena, "O Que é a Questão Palestina", Coleção Primeiros Passos,

Brasiliense, SP;

SOLIMAN, Loutfallah, "Por Uma História Profana da Palestina", Brasiliense, SP;

 

[1] A caracterização geográfica que se fará a seguir foi feita graças ao auxílio do "Atlas Universel", editado em conjunto pelo Jornal "Le Monde" e "Seleções Readers Digest", Paris, França, edição de 1983, sob a coordenação de.

[2] Dados obtidos a partir das seguintes fontes disponíveis: a. Revista "Carta Informativa" da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, n.º 137, junho/agosto, 1992, São Paulo, pag 15-37; b. Almanaque Abril e Almanaque Lisa 1993; c. Enciclopédia "Larousse Cultural", Editora Círculo do Livro, 30 Volumes, São Paulo, 1983.

[3] Os cálculos feitos para que se chegue a este resultado são os que levam em conta o preço de um F-117 de US$106,000,000.00, um F-15 e um Tornado a US$50,000,000.00, o avião Jaguar a US$20,000,000.00, um helicóptero a US$16,200,000.00 e os bombardeios B-52 mais "baratos" de US$10,000,000.00. Os tanques mais modernos são da ordem de US$4,400,000.00. Fonte: Revista Veja, ano 24, n.º 7, de 13/2/91, artigo "O Cenário da Guerra", pag 28-41).

[4] Revista Veja, fonte citada.

[5] "Book of Year 91", Encyclopaedia Brittanica, Departamento de Defesa dos Estados Unidos e Greenpeace International in jornal "O Estado de São Paulo", 10/1/93, pag 13.

[6] Fonte citada, pág. 13.

[7] "Carta Informativa", boletim da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Ano XII, de novembro de 1992, pag 6, SP.

[8] Jim Mann, do "Los Angeles Times", intitulado "Lembrança de Noriega 'Salvou' Saddam", publicado pelo "Jornal do Brasil" de 18/1/93, pag 7.

[9] Folha de São Paulo, intitulado "Ocidente não Tem Opção Para o Lugar de Saddam, caderno 2, pag 2, de 18/1/93.

[10] Charles Richard, do "The Independent", artigo intitulado "Chefe da CIA Conta Por Que Saddam se Manteve", publicado pelo jornal "Folha de São Paulo" de 10/1/93, caderno 3, pag 3.

[11] Trevor Rowe, do "The New York Post", artigo intitulado "Saddam Ainda Está Muito forte", publicado pelo "Jornal do Brasil" de 29/11/92, pag 23.

[12] Jornal "O Globo”, artigo intitulado "Pentágono; Chance de Terminar um Serviço Incompleto", de 9/1/93, pag 19.

[13] Jim Mann, do "Los Angeles Times", publicado pelo "Jornal do Brasil" de 18/1/93, pag 7.

[14] Folha de São Paulo, caderno 2, pag 2, de 18/1/93.

[15] Charles Richard, do "The Independent", publicado pelo jornal "Folha de São Paulo" de 10/1/93, caderno 3, pag 3.

[16] Trevor Rowe, do "The New York Post", publicado pelo "Jornal do Brasil" de 29/11/92, pag 23.

[17] Jornal "O Globo" de 9/1/93, pag 19.

[18] Prof. Rogério César de Cerqueira Leite, "O Mito do Petróleo Inesgotável", Folha de São Paulo, 26/12/92, pag 3, caderno de Economia.

[19] "L'inquiétante Baisse de Revenus du Petróle", jornal "Le Monde Diplomatique", n.º 467, ano 40, de fevereiro de 93, pag 6.

[20] "Where The Oil Flows", Pesquisa de Shelly Newmeyer & Deborah Cooper, Revista "Fortune", volume 122, n.º 6, de 10/9/90, pag 47-49.

[21] A revista "Fortune" de março de 93, divulga as 25 maiores empresas em faturamento do planeta. A Exxon, como nos anos anteriores, é a segunda em faturamento, perdendo só para a GM. Essa empresa petrolífera faturou em 92, US$103,775 bilhões de dólares. Entre as dez maiores, 4 são petrolíferas: Exxon, a Mobil (US$57,39 bilhões), a Chevron (US$37,46 bilhões) e a Texaco (US$37,13 bilhões). Fonte: Folha de São Paulo, caderno 2, pag 9, 31/03/93.

[22] "Scorecards on The Oil Giants", de Susan Camminiti, revista "Fortune", citada, pág. 45-46.

[23] Nicolas Sarkis, artigo citado.

[24] "Soberania e Dignidade: Raízes da Sobrevivência", Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1991, pag 126.

[25] Op. cit., pág. 122-123.

[26] Luiz Alberto C. Faria, engenheiro de Equipamentos da Petrobras, "Petrobras e Monopólio estatal - Fatos e Dados", jornal do CREA/RJ, março de 93, pag 10.

[27] Bautista Vidal, op. cit. pág. 123.

[28] Ibidem, pág. 124.

[29] "Hostage To Oil", de William Cook & Outros, revista "US News & World Report", volume 109, n.º 14, de 8/10/90, pág. 45-64.

[30] Nicolas Sarkis, artigo citado.

[31] Bautista Vidal, op. cit., pág. 125.

[32] "Expulsão Faz Árabe-Israelense Tomar Posição", de Chris Hedges, do "The New York Times", in OESP de 10/1/93, pag 15.

[33] Artigo citado, pag 3.

[34] "Illusoire Sécurite Collective Sans l'Irak et l'Iran", publicado pelo "Le Monde Diplomatique", jornal citado, pag 4-5.

[35] "Deux Ans Après, la Démocratie Reste Balbutiante au Koweit", publicado pelo jornal "Le Monde Diplomatique", citado, pag 4-5. Ver também artigo de Olivier Lage do mesmo jornal, de janeiro de 89, intitulado "Incertaine Démocratisasion au Koweit".

[36] Para maiores informações sobre essa realidade, ver artigo de nossa autoria publicado pelo jornal "A Classe Operária" de 30 de agosto de 1990, intitulado "As Raízes do Conflito no Golfo".

[37] Deptº de Defesa dos Estados Unidos, in "Números da Guerra do Golfo", OESP de 10/1/93. Pág. 13.

[38] Fontes: dados obtidos referentes a 1991, publicados pelo Almanaque Abril e Lisa, 1993.

ta Vidal, op. cit. pág. 123.

[28] Ibidem, pág. 124.

[29] "Hostage To Oil", de William Cook & Outros, revista "US News & World Report", volume 109, n.º 14, de 8/10/90, pág. 45-64.

[30] Nicolas Sarkis, artigo citado.

[31] Bautista Vidal, op. cit., pág. 125.

[32] "Expulsão Faz Árabe-Israelense Tomar Posição", de Chris Hedges, do "The New York Times", in OESP de 10/1/93, pag 15.

[33] Artigo citado, pag 3.

[34] "Illusoire Sécurite Collective Sans l'Irak et l'Iran", publicado pelo "Le Monde Diplomatique", jornal citado, pag 4-5.

[35] "Deux Ans Après, la Démocratie Reste Balbutiante au Koweit", publicado pelo jornal "Le Monde Diplomatique", citado, pag 4-5. Ver também artigo de Olivier Lage do mesmo jornal, de janeiro de 89, intitulado "Incertaine Démocratisasion au Koweit".

[36] Para maiores informações sobre essa realidade, ver artigo de nossa autoria publicado pelo jornal "A Classe Operária" de 30 de agosto de 1990, intitulado "As Raízes do Conflito no Golfo".

[37] Deptº de Defesa dos Estados Unidos, in "Números da Guerra do Golfo", OESP de 10/1/93. Pág. 13.

[38] Fontes: dados obtidos referentes a 1991, publicados pelo Almanaque Abril e Lisa, 1993.