Cuba vencerá, mais uma vez, o imperialismo estadunidense

Prof.Lejeune Mirhan - 20-07-2021 1358 Visualizações

No domingo 11 de julho, o mundo assistiu pelas grandes redes corporativos da mídia burguesa internacional, as imagens de alguns protestos em Cuba, onde os manifestantes gritavam as duas palavrinhas mágicas da contrarrevolução: liberdade e democracia, como se ambas as questões não existissem na ilha socialista. No dia 18 de julho, veio a resposta. Centenas de milhares de cubanos em apoio à Revolução foram para as ruas.Trato neste meu novo ensaio, sobre o significado desses “protestos”, seus desdobramentos e perspectivas.

Cuba é um país socialista, com 11 milhões de habitantes. O país resolveu tornar-se dono do seu destino, mesmo estando próximo do Mar do Caribe e do Golfo do México, a cerca de 350 km do império. A partir de 1959 eles decidiram tomar outro rumo. Eles fizeram uma revolução popular, que não era socialista e muito menos comunista. Fidel não se proclamava adepto dessas correntes.

Dia 1º de janeiro de 1959 os revolucionários liderados por Fidel e Raul Castro, Ernesto Che Guevara, Camilo Cienfuegos entre outros, entram na capital Havana e tomaram o poder político na ilha e fazem uma limpeza no que foram os anos anteriores da ditadura de Fulgêncio Batista (1901-1973), que governou a ilha ente 1934 e 1959. Cuba era como um “parque de diversões” dos estadunidenses que iam para lá nos finais de semana gastarem seus milhões de dólares. A revolução mudou o rumo e os Estados Unidos não gostaram.

Quando Fidel vai para a Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 59, ele iria também em 60, ele é festejado pela imprensa estadunidense. Mas, os Estados Unidos estavam com um pé atrás, nem apoiavam nem rejeitavam a revolução.

No entanto, em abril de 1961, aconteceu uma tentativa de invasão da ilha, na região conhecida como Baia dos Porcos (Batalha de Girón), incentivada pelo então presidente democrata, John Kennedy, pouco depois de sua posse em janeiro daquele ano. A invasão foi feita por mercenários cubanos, aqueles que saíram da ilha no momento da revolução e se exilaram na Flórida, mais especificamente na cidade de Miami. Eles fazem uma oposição encarniçada aos rumos que o país decidiu tomar.

A partir deste episódio, em 1961, Cuba e o próprio Fidel se proclamam socialistas e amigos da URSS. No dia 4 de setembro de 1961, no mês da AG da ONU, os EUA aprovam a Lei de Assistência Externa, onde definem de que forma e com quais critérios eles ajudariam os outros países. Trata-se de uma lei geral, mas com alguns artigos específicos dirigidos a Cuba.

É aí que se inicia o embargo. A lei previa proibição de qualquer ajuda a Cuba. Não se tratava da proibição do comércio com o país, proibição de comércio, importação e exportação. A proibição era de conceder qualquer ajuda ao país caribenho.

Em 21 de janeiro de 1962, a AG da Organização dos Estados Americanos-OEA, decidiu pelo bloqueio e imposição de sanções e suspendeu a participação de Cuba naquele organismo que é vinculado às Nações Unidas. Alguns autores chama a OEA de Ministério para as colônias, o quintal deles em que se transformou a América Latina.

Com uma votação folgada, Cuba foi suspensa com 14 a favor, um contrário (Cuba) e seis abstenções (Brasil, Argentina, Chile, Equador, Bolívia e México). Além da suspensão, a OEA, orientou seus países membros a imporem uma série de sanções multilaterais. Esta foi, então, a primeira decisão do que hoje chamamos de embargo, um bloqueio total. Como veremos mais à frente.

Alguns dias depois, dia 8 de fevereiro de 1962, Kennedy passou a impor bloqueios e embargos a partir dos Estados Unidos, proibindo qualquer comércio entre os dois países.

Este foi um golpe duro para o país que estava iniciando o processo de construção do socialismo. Mas, como não existe vazio na política, Fidel se aproxima da União Soviética, que geraria a famosa crise dos mísseis. Nikita Kruschev, líder soviético, na época, manda mísseis para serem instalados na ilha, em uma clara provocação. Segundo alguns especialistas, esse foi o único momento em que o mundo esteve à beira de um conflito nuclear de grande escala. Os mísseis foram retirados depois, com a garantia por parte do presidente dos EUA de que não invadiriam a ilha.

O embargo se relacionava à proibição de importação por qualquer empresa dos Estados Unidos a quaisquer produtos fabricados na ilha. E proibia que as empresas exportassem para Cuba. A única brecha que ele deixou foi para medicamentos e alimentos.

Em agosto do mesmo ano, Kennedy propõe uma alteração na Lei de Assistência Externa e proíbe de forma categórica, no texto da lei, os itens do embargo. Ou seja, o veto total ao comércio bilateral.No ano seguinte, 8 de fevereiro de 1963, ele impõe o embargo às viagens entre os dois países. A partir de então, todas as viagens, de qualquer natureza foram encerradas.

A partir daí, é preciso registrar, não foram retilíneos o comportamento de todos os governos que sucederam a John Kennedy. O seu vice, Lindon Johnson (1908-1973) que o sucede, mantém o bloqueio e intensifica a agressão ao Vietnã, iniciada pelo antecessor.

Os outros presidentes, depois de Lindon Johson foram Nixon, Ford, Carter, Reagan, Clinton, Bush, Obama, Trump e Biden. É preciso deixar registrado que dois presidentes: Jimmy Carter e Barak Obama, de certa forma, afrouxaram as sanções e ensaiaram uma melhora de relações.Do ponto de vista do afrouxamento do embargo, é preciso dizer que, Jimmy Carter, não só afrouxa o embargo, como suspende restrições de viagens, exatamente, no dia 19 de março de 1977. Ele tomou posse em janeiro desse ano.

Nestemomento histórico, o presidente era Jimmy Carter que defendia a política dos Direitos Humanos no Continente que era governado, praticamente, por ditadores. A defesa dos Direitos Humanos defendida por Carter era de fato, contra torturas e outras práticas. Diferentemente desta que hoje os EUA pregoam, que serve mais para ingerência externa nos assuntos de outros países, acusando-os de violação, casos da China, Rússia, Irã etc.

As restrições tinham prazo de validade e eram renovadas de tempos em tempos. Carter não renovou os embargos, deixando-os suspensos. Mas, ao tentar a reeleição, em novembro de 1980, ele perde para um ator de filmes “B” de Hollywood, que nas horas vagas fazia propaganda de liquidificador na televisão, ultradireitista, chamado Ronald Regan.

Carter pagou um preço alto, muito provavelmente, pela sua política de afrouxamento com a ilha. O lobby cubano nos Estados Unidos é fortíssimo. Trata-se de uma comunidade rica e muito poderosa. O ex-presidente foi punido também pelo sionismo, porque estabeleceu acordo de paz entre Israel e Egito, de forma que Israel teve que devolver territórios ocupados para o próprio Egito, Jordânia, sul do Líbano. Mas, não devolveu para a Síria, até hoje. O sionismo não perdoou. E, para piorar, no penúltimo ano de seu governo, em fevereiro de 1979, ocorre a Revolução Islâmica no Irã e a embaixada dos Estados Unidos foi ocupada pelo movimento estudantil que fica lá mais de 400 dias.

Ele foium bom presidente para os padrões dos EUA, mas não para os nossos. Para os nossos padrões, eu diria que só Lincoln e, de certa forma, Roosevelt poderia entrar no padrão de um Getúlio, um presidente mais progressista. Nos Estados Unidos não se usa as palavras esquerda ou direita.Regan ganhou e tomou posse em janeiro de 1981. No dia 19 de abril de 1982, ele renova os embargos e proíbe, novamente, as viagens.

Depois, o episódio mais drástico e violento contra a soberania de Cuba é imposto pela aprovação de uma lei pelo Congresso estadunidense, que leva o nome de Helms-Burton. Dois senadores republicanos, de extrema-direita, Jesse Helms, da Carolina do Norte e Dan Burton, de Indiana, apresentam a lei que é aprovada por ampla maioria, em 6 de março de 1996, em pleno governo de Bill Clinton. Esta lei impede que, qualquer governo, por mais progressista que seja, restabeleça plenamente as relações com Cuba.

Só que esta lei, é específica e leva o sugestivo nome de “Lei da solidariedade, liberdade e da democracia cubana”. Uma lei feita para Cuba e a solidariedade que os EUA dizem ter com Cuba é o acirramento do bloqueio, piorando as condições de vida do povo, com a vã e equivocada ideia, que não deu certo em lugar nenhum do mundo, de que quanto pior a situação do povo estiver, ele vai se rebelar contra o governo.

Esta lei, diferente daquela de 1961, não só proíbe, ela também pune todas as empresas que fizerem comércio com Cuba, seja importando ou exportando. Mas, ela não ficou nisso. Ela faz o que é vedado no Direito Internacional, que é a de uma ação extraterritorial de uma lei que deveria valer apenas para os Estados Unidos.

Toda lei é nacional e aprovada por um congresso de seu país. Ela não pode, no entanto, legislar sobre o que uma outra nação vai fazer. Esta lei diz expressamente que todas as empresas, de quaisquer países no mundo, que comercializarem com Cuba, serão punidas e não poderão comercializar com os Estados Unidos. Vemos aí o braço malévolo do império atingindo o mundo inteiro.

A União Europeia, que não tinha este nome na época, tenta esboçar uma reação, através de alguns países, mas eles sucumbem rapidamente. Não conseguem enfrentar esta poderosa lei e o peso da economia estadunidense.O projeto não foi de iniciativa do democrata Bill Clinton, mas ele com todo o seu poder, não moveu uma palha para impedir esta aberração feita pelo Congresso.

Por que os Estados Unidos nutrem tanto ódio e não querem fazer transações comerciais com Cuba, um país governado por um partido comunista, se eles têm relações comerciais com a China e o Vietnã, por exemplo? É estranho, mas o ódio se dá não pelas armas, que Cuba não tem um poderio bélico. Então, de onde vem o medo? Vem das ideias que Cuba propaga e das condições excepcionais de vida daquele povo, que poderia ser imitado ou desejado por outros povos do mesmo Continente.

Quando Roosevelt faz um governo progressista, keynesiano, não é porque ele era bonzinho. É porque os operários dos Estados Unidos, que viviam a crise econômica de1929 a 1932, e é ele que vai fazer o país sair da crise. Os operários olhavam para o outro lado do mundo e viam a União Soviética que crescia 10% ao ano, saúde de boa qualidade, educação gratuita, todos tinham moradia, do tamanho das necessidades de suas famílias. Era um modelo que os Estados Unidos não poderiam deixar implantar em seu país.

Foi então que fizeram um estado mais “bonzinho”, que protege os desfavorecidos. E Cuba, hoje, representa aquele modelo. Tem os melhores índices de saúde do Continente, o melhor sistema de ensino que garante estudo da creche até o pós-doutorado, tudo público e de boa qualidade. Lá não existe escola privada.

Alguns dados

Expectativa de vida:

Estados Unidos: 78,54.

Cuba: 78,73.

Mortalidade infantil:

Estados Unidos: 5,9 mortos por 1.000 habitantes.

Cuba: 3,8 mortos por 1.000 habitantes.

Em Cuba a mortalidade está restrita a algum problema ou a algum erro do parto. Estamos falando de crianças nascidas vivas, nada a ver com natimortos, que é outra estatística. Assim, no pensamento deles, é um modelo que tem que acabar.

Por um certo momento, até 1967, Cuba exportava não apenas as ideias revolucionárias socialistas, como também exportava a revolução armada. O próprio Ernesto “Che” Guevara (1928-1967), contrariando a opinião de Fidel, queria fazer a revolução no mundo inteiro. Esteve na África, Bolívia, passou pelo Brasil. Foi preso em 8 de outubro de 1967 e assassinado no dia seguinte.

Fidel investiu pesadamente na saúde e criou uma Escola Latino-americana de Medicina-ELAM. Estive duas vezes na ilha,onde pretendo voltar e vê-la socialista e, conheço o modelo de saúde cubano (1). Eles exportam médicos. A ELAM pratica uma medicina de qualidade e recebe alunos do mundo inteiro. Inclusive dos Estados Unidos, são 500 os alunos. Serão médicos formados em Cuba para trabalhar na periferia das grandes cidades estadunidenses.

A Brigada de Médicos Cubanos – Henry Reeve – que concorre ao Prêmio Nobel da Paz, está presente no mundo inteiro, em mais de 60 países.O Brasil fez um plano maravilhoso chamado “Mais Médicos”,que trouxe 10 mil médicos para o Brasil que provocou uma reação desproporcional da comunidade médica brasileira, completamente descabida. Quando chegavam nas capitais para cuidar da saúde do povo eram vaiados e humilhados.

Para se ter uma ideia, o Brasil tem 5570 municípios e cerca de dois mil não têm ummédico sequer. E é para essas localidades que eles foram mandados. Realizaram mais de 60 milhões de consultas. Uma das primeiras coisas que o atual governo fascista fez, foi cortar esse convênio. Cuba, no entanto, continua exportando médicos, enquanto os EUA exportam soldados.

Os eventos ocorridos no dia 11 de julho

Eu não tenho o número de cidades nem o número de manifestantes onde ocorreram protestos contra o governo cubano. Nos artigos que li, vi que não passaram de 10 mil pessoas em toda a ilha. Cuba passou a viver uma guerra híbrida, uma nova modalidade que alguns estudiosos identificam não com combates armados, invasões, golpes ou deposição de dirigentes por via direta dos marines estadunidenses. Isto já não é mais necessário. Este tipo de guerra prevê ação de comunicação, a indústria cultural de Hollywood, do lawfare do Poder Judiciário, da influência dos Estados Unidos nos parlamentos nacionais.

Quando o Parlamento da República do Paraguai, em 2012, votou pela cassação do presidente Padre Fernando Lugo, votou com base na orientação dos Estados Unidos. A onda golpista começa em 2009, quando Manuel Zelaya, em Honduras, foi deposto do cargo pelo Supremo Tribunal de lá. Ele foi acordado de madrugada por soldados dizendo que ele tinha 24 horas para deixar o país.

No Brasil, em 2016, o Parlamento derrubou a presidente Dilma e na Bolívia, o golpe foi em 2018.Esta é uma guerra e o Brasil vive essa guerra híbrida desde a lava-jato. Assim, presenciamos quatro golpes na América do Sul em nove anos.

As manifestações que aconteceram em Cuba, no dia 11 de julho, foram convocadas de fora para dentro, eo Facebook foi o instrumento utilizado. Qualquer pessoa pode criar um evento e ela pode convidar até 500 pessoas. O Facebook não quer saber se essa pessoa existe ou não.

Tem alguns sites que para se criar uma área própria, exigem a identidade do pretendente. Não é o caso dessa rede social. Dizem que o Face tem três bilhões de membros. Será? Quantos são falsos, quantos são robôs? Uma única pessoa pode ter 50 perfis.

Em 2011 houve a chamada “Revolução Árabe” ou “Primavera Árabe”, que para os árabes foium inverno. Não devemos usar esse termo, osárabes não o aceitam. Foiparte da guerrahíbrida. Com exceção do Egitoonde, de fato, opresidente Hosni Mubarak, que ficou 29 anos no poder,merecia cair.

Defato, foi merecida a queda, mas o queveio depois dele,é muito ruim,suspeito que tenha o dedo dos EstadosUnidos. Foi um governo fundamentalistaislâmico do Mohamed Morsi Issa al-Ayyat (2), que era daIrmandade Muçulmana, uma organização deextrema-direita mundial que atua em 70países, é sunita e que apoiaos cortadores de cabeça do chamado Estado Islâmico. Mas,de qualquer forma, foi positiva a queda de Mubarak.

Sóque na ondada tal Primavera, depois do Egito teveTunísia, Argélia, destruíram a Síria, masnão derrubaram o seu presidente.Destruíram a Líbia e mataram o seu presidente.Destruíram o Iraque e mataram o seu presidente.Então, esta onda de guerra híbridaexiste na América Latina e Cuba viveuisso neste final de semana do dia 11 de julho.

O Brasil vive isso, a América Latina vive e Cuba está vivendo.Eudei o exemplo do Egito, porque asmanifestações na famosa Praça Tahir, que reuniam até dois milhões de pessoas, é um dado importante.Eles eram convocados por eventoscriados no Facebook.Algunsautores chamamde revolução Facebook.

Láno Egito,quando a pessoa criava o evento, que ninguém conhecia, não era uma entidadeque convocava, aparecia um milhão de confirmações. Muitas vezes, criamos um evento via Facebook, convidamosos amigos que dizem: eu vou,eu tenho interesse ou, não vou.Nãoé assim que funciona?

Então, em Cuba istofoi feito às centenas.E, os perfis que convocavam estas manifestações,a maioria era de fora do país. E, os queeram de Cuba, uma parte eram robôs, eramfalsos.Então, é uma coisa toda maquinada de fora para dentro.

Eu salvei algumas fotos dasmanifestaçõese, nestas fotos,veem-se bandeiras cubanas tremulando ao lado de bandeiras dos Estados Unidos namanifestação, igual ocorre na Venezuela.Os que são contra o governo cubano amam osEstados Unidos, eles sonham implantar na Venezuela ou em Cuba, o sistemacapitalista que produz miséria e desigualdade. Esse é o grande projeto desse cubanos antipatrióticos.

Então, esta foi umamovimentação de fora para dentro,estimulada, apoiada, financiada peloimperialismo estadunidensee pelo seu braço de Miami.Oscubanos de Miami, gusanos, como são chamados, que em espanholsignifica verme, é uma comunidade muito rica. Como já disse, eles financiaram essa tentativa de um levantepopular que não se consolidou.

Então, quais eram as duas palavras mágicas queeles pronunciavam nas tais manifestações?“Liberdade e Democracia”.Eles partem dopressuposto de que isso não há na ilha. Oque é uma falácia, só quem não conhecemesmo. É ignorante quem fala uma coisadessas.Nãosó tem liberdade, como elesfizeram lá o que quiseram e não foramreprimidos.

É interessante que a mídia internacionaldeu uma cobertura desproporcional ao real significado do que Cuba tem na políticamundial ou mesmo na América Latina.De fato, Cuba afronta já há mais de seis décadas osistema capitalista.Então, derrubá-la ou,naiminência de cair, é motivo de festejono mundo inteiro, na imprensa capitalista. Ostelejornais no horárionobre deram largos espaços para cobrirestas manifestações, que não tiverama dimensão que a mídia deu.

É, então,completamente desproporcional.Mas,estas notícias criaram um clima de que Cuba pudesse cair. Um clima de “já ganhou”. Isto para ver se na onda,contagia a massa.A grande maioria do povo cubano que nãocompareceu e, muito ao contrário, foi àsruas em seguidaatendendo ao chamado do presidente MiguelDíaz-Canel, ocuparam as ruas quepertencem aos revolucionárioscubanos, que saíram em defesa da sua revolução.

Tanto é que está tudo mais tranquilo na Ilha e nada tem acontecido nos moldes do que foi o dia 11 de julho.Aocontrário, as ruasestão mobilizadas em defesa darevolução.Elesnão vão jogar fora, pormais dificuldades que existam, todas as conquistas de 60anos de revolução.

É interessanteregistrar,por exemplo, as manifestações gigantescas que ocorreram no Chilee as manifestações na Bolívia peladerrubada da ditadura. E,a ditadoraJeanine Añez estápresa na Bolívia.É agente dos Estados Unidos.E, naColômbia. Vai fazer três mesesque o povo não sai das ruas.Comosãochamados pela imprensa essas pessoasque estão lutando contra ditadores comoIvan Duque?São chamados de baderneiros.

Cuba não tem uma ditadura, é umademocracia popular, muito mais avançadado que essa democracia burguesa que nósconhecemos.Fazendo um parênteses:lamentavelmente, entre nós da esquerda, teve gente que ficou encantada comesse movimento. Tevegente no nosso campoque acha que aquilo é de fato umaditadura e defende eleições diretas, como se eleições diretas fossem a coisa maisdemocrática do mundo.Há dezenas de países que têmpresidente eleitos indiretamente. Então, são sistemas parlamentaristas em que vocênão elege o presidente.Com exceção da França que tem um modelohíbrido.

Os desdobramentos e a solidariedade imperiosa

O que já era difícil em função doembargo de quase 60 anos, ficou ainda pior a partir da pandemiado ano passado.Boaparte da receita de Cubavem do turismo.E, o turismo parou no mundo inteiroquando a pandemia foi decretada pela OMS. A solução era o confinamento, odistanciamento social, com medidasprofiláticas como álcool em gel, máscara etc.

A economia do mundo parou desde 2020.Só a chinesa cresceu 3%, todoo resto levou um tombo.Algunspaíses, tiveram saldo negativo de crescimento. Ninguémviajava. Em Cuba, os hoteisficaram às moscas, o que dificultou ainda mais a sua situação.

E falou-se naquela épocaque,a melhor forma deajudar o país, seria levantando as sançõese os embargos, não só para Cuba, como também para oIrã, para a Síria, países que vivem emextrema dificuldade no momento depandemia.E o império não tem coração, oimpério não tem sentimento, ele teminteresses que são capitalistas, que queremexplorar eganhar o máximo possível dedinheiro.

Em 2020 tínhamos nos EUA o governonegacionista de Trump que, felizmente,perdeu fragorosamente equando parte da esquerda diz queTrump e Biden são a mesma coisa, eu ficopensando assim: então, se Trump ganhasse as eleições seria melhor?A mesma coisa em Israel. A gente dizia: nada é pior do que Netanyahu. Tal qual hoje dizemos aqui no Brasil. Nada é pior que este que se apresenta como nosso presidente.

Então, Cuba viveu assim um drama, elevado à potência mil. Você já imaginouse no Brasil houvesse o racionamento, como existe em Cuba? Porque, todo mundo tem direito a umaquota mínima. Nãotem fome em Cuba, ninguém dorme na rua. Tem um dito popular que estáno aeroporto José Marti, de Havana, que diz assim: “Esta noite milhões de criançasdormirão nas ruas, nenhuma delas é cubana”.

Essa é a verdade.Então, estagente que foi para as ruas queremderrubar um governo e retroceder àsconquistas de 60 anos de revolução,querem privatizar todo o ensino e todaa saúde.Quemsabe que são esses os seus reais objetivos? Eles não têm coragem de dizer isso. Por isso eles sófalamem “liberdade e democracia”, mas sãoagentes externos, estão a serviço de umprojeto imperialista que segue forteno mundo,apesar de o mundo caminharpara a consolidação do sistemamultipolar.Isto, com a força da Rússia e daChina, que estão ao lado de Cuba. Mas, nãose iludam: não vai ter uma Terceira GuerraMundial, se os Estados Unidos insistiremem apoiar a derrubada de do governo.

Donald Trump jamais suspenderia oembargo a Cuba, nem sob argumentos de questão humanitária, por causa da pandemia. Absolutamente. Não só não suspendeu, comonos quatro anos do seugoverno, ele impôs 243 novas sançõese nenhuma delas foram revogadas pelo atualpresidente.

Quanto ao racionamento em Cuba, por exemplo,garante que todas as casas que tenhamcrianças em idade de amamentação,recebaum litro de leite por dia.Emtodas as casas têm uma cota de ovos,que são a proteína animal mais importante depois da carne.Aquino Brasil você faz o mercado e compra quantas dúzias de ovos quiser, enquanto milhões de brasileirosnunca comem ovo,porque a distribuição é desigual nocapitalismo, propositalmente, desigual.

Quando Lula tirou da pobreza 30milhões e jogou na classe média mais 40 milhões, elefez quase que umarevolução pelo consumo. Umapartegrande da sociedade brasileira não ésequer consumidora e o modelo neoliberal, transformou em mercadoria osdireitos, como ensinoe saúde.Queé tudo mercantilizado, omodelo neoliberal só considera cidadãoaquele que pode consumir.Sevocê nãoconsome, não é cidadão ou é de segundacategoria.

Cuba mesmo sendo o melhor sistema de saúde da América Latina,ela precisa, para fabricar alguns medicamentos, importar insumos e isso Cuba não consegue por causa do bloqueio. Cubatem uma grande indústria farmacêutica. É o único país do mundo junto com a China quejá estávacinando todo oseu povo com suas próprias vacinas.São as vacinas Soberanae a vacina Abdala.

Então, mesmotendo o melhor sistema de saúde,faltam medicamentos,porque algunsmedicamentos dependem de insumos queCuba não consegue fabricar. Esse é umproblema também da Venezuela, que com o embargotudo fica muito difícil.E o Biden nesse momento,também bloqueia alimentos e medicamentos.Quando Kennedy fez os primeiros bloqueios eembargos eleretirou alimentos emedicamentos das proibições. Mas, issonão está sendo respeitado.

É preciso registrar que o caráter desse movimento que está emcursoé nitidamente antissocialista.E ele é contrarrevolucionário.Nóspoderíamos ter um movimentooposicionista emCuba.Euacho que tem,inclusive, patriótico, que não quisesse adeposição de um governo, mas quetentasse conquistar o governo, através damaioria no Congresso.E, que não fosse uma oposição traidora dopovo que quer trazer de volta os EstadosUnidos e quer voltar à Cuba de antes de1959.

Então, a maioria dessas pessoas queestavam na manifestação, tem este projetopolíticode derrubar o governo legítimo de Cubasocialista e privatizar tudo e transformarnovamente Cuba em um país satélitesubordinado ao imperialismoestadunidense.

Cuba recebeu a solidariedade demuitos países, de muitos chefes de Estado ede governo, muitos ex-presidentes, comoa presidente Dilma, Lula, Evo Morales. Mas,recebeu o apoio dos presidentes López Obrador, do México,Alberto Fernandes, da Argentina,Luiz Arce, na Bolívia, entre outros.

E o povo, nósmesmos aqui no Brasil saímos em defesa doConsulado de Cuba, que oscontrarrevolucionários, convocaram paraSão Paulo uma manifestação no dia 12 de julho. Nós fomos lá e éramos muito mais,a maioria,e eles eram cinco ou seis.E, a mesmacoisa na Embaixada em Brasília, queestá sendo defendida por todos nós quesomos solidários a Cuba.

A campanha deaquisição de seringas para mandar paracuba continua.Tematé uma conta corrente, onde você pode doar para umcomitê vinculado à Embaixada de Cuba. Já mandaram para lá milhões deseringas, porque eles precisam (3).

Por que Joe Biden está sendo pior que Donald Trump com relação a Cuba?

John Biden é presidente de um paíse chefe de um império.Eletem dois papeis. Ele pode serum bom presidente e será sempre umpéssimo imperador para a maioria dos países do mundo, porque essa é a função de qualquerpresidente e chefe do império, que é fazer de tudo para manter ahegemonia dos Estados Unidos.No entanto, elesnão vão conseguir isso.

O mundounipolar não existe mais. Brasil eÍndiapoderiam ser polos, não são porque têmgovernos subservientes. O do Brasil também ésubserviente, mesmo que o Biden nãotendo sido o candidato do seu coração. Toda a família Bolsonaro fez campanha pró-Trump, pois eles são fascistas.Eleadora o império eprestacontinência para bandeira dos EstadosUnidos.

A União Europeia é, de certaforma, um polo.Mas, é um polo oscilante.Temhora que esboça um movimento deindependência e resistência aos projetosimperiais, mas na maioria das vezes étambém subordinada. A França e aAlemanha têmesboçado certa resistência e independência, negociando com a Rússiae com a China.

Eu tenho um capítulo publicado nomeulivrointitulado Conflitos Internacionais em um mundo globalizado, escrito em parceria com o amigo e camarada José Reinaldo Carvalho em que trato dessa temática (4).Esse capítulo foi escritodepois que Biden ganhou em novembro de 2020,de forma que é umlivro muito atualizado.Nesse capítulo específico eu indago como seria o mundo depois de Trump.

Nele, eu defendo que não é a mesma coisa Trump e Biden. Noentanto, nestecapítulo e em outros ensaios que eujá publiquei, eu também digo queeu tenho apenas duas certezas comrelação ao que o Biden não faria depois da posse: ele não iria acabar com o sistemacapitalista dos Estados Unidos, igualGorbachev acabou com a o socialismo naUnião Soviética.

E, a segunda questão é que ele jamais vaiabdicar de defender os interesses dosEstados Unidos e que fará de tudo para que “seu” império sigasendo hegemônico.No entanto, este segundo projeto ao qual ele nãovai abdicar, ele já não consegue maiscumprir, não tem mais força política paraisso.

Os EUA podem hoje até ter força militar e alguma forçaeconômica,mas é uma potênciacompletamente decadente. Mas, não têm mais forçapolítica nem diplomática.Elesestão sendosuperado pela China e pela Rússia.Esse é o grande pesadelo dosEstados Unidos hoje, que é perderem a hegemoniano mundo.

Mas, isso é uma pergunta e eu não sei se tenho a respostadefinitiva. JoeBiden,de fato, alterou algumas coisasna política externa dos Estados Unidos.Porexemplo,colocou à pauta ambiental na ordem do dia,voltandoà Comissão para o Tratado doClima,chamada de Conferência de Paris; voltoupara a OMS. Diferente de Trump, ele não é negacionista. É também multilateralista, reconhecendotodas as decisões tomadas pelosorganismos multilaterais da ONU. Ele inclusive voltou a pagar a cota parte dos EUA a estes organismos, Trumptinha suspenso. E, especialmente,à OMS.

Por isso, não estou entre aqueles que acham quenão mudou nada na política externa.Nãoéverdade e chega a ser antidialético afirmarisso.Nesse capítulo citado, eudisse que eu posso não saber exatamente o que ele fará sobrepelo menos três questões: Palestina,Cuba e Irã.

Eu tenho falado isso em todos osprogramas em que eu participo. Ele não disse aque veio a nenhum desses temas.Nocapítuloeu arrisco dizer o seguinte: é muitoprovável que ele volte ao Acordo Nuclearcom o Irã, que foi assinado em 2015 pelopresidente Obama, quando Biden era seu vice e, émuito provável que ele volte às relaçõesbilaterais com Cuba, no patamar que opresidente Obama deixou.

Obama esteve na ilha em julho de 2016 e apertou a mão no comandante RaulCastro, ficou hospedado no hotel que foisede da do QG da revolução, emjaneiro 1959,lá passando três dias.Ele autorizou asviagens entre os dois países por voos fretados.Autorizouremessas de dinheiro. Ele não suspendeu algumas sanções.Quando Trump tomou posse, em janeiro de17, ele recuou e cancelou tudo. Só não fechoua embaixada.Elenão rompeurelações diplomáticas.

Mas, por que Biden está fazendo isso?Ele estáfazendo tudo ao contrário que Obama fez.Eleestáestimulando a derrubada do governo e nãorevogou sequer uma das novas sanções, aquelas 243que são as mais recentes.Ouseja,por que ele não volta ao patamar que Obama deixou?

A minha explicação é a que vem de umlivro de um intelectual muito importante, Paul Kennedy, cujo título é A ascensão e queda das grandes potências (5),onde ele estuda as potênciase os impérios desde aantiguidade, até o último império inglês, que foi o último que desmoronoue perdeusuas colônias, praticamente do mundointeiro.

Dizia-se que o Sol nunca se punha noImpério Inglês. O que eles queriamdizer com isso?Nos24 fusos, horários daterra, tinha sempre uma bandeira inglesahasteada à luz do Sol, em horáriocomercial.Esse império desmoronou.Elediz quequando o império se encontra na fasefinal decadente, prestes a desaparecer,ele torna-se violento, mesmo sendopoderoso militarmente e atéeconomicamente. Ele fica violento e muito agressivo.

Então, a minhaexplicação é que estamos presenciando essadecadência.Nãovou dizer aqui quantosmeses ou anos para que o Império desmorone de vez. Não vou marcar data para ofim do império. O que estamos presenciando não é uma decadência relativa, é uma profunda decadência do imperialismo estadunidense.

Ele está lutando com as suas últimasforças para manter a sua hegemonia nomundo e, uma das tarefas principais é destruir aquilo que simboliza osocialismo no mundo hoje, que é a pequenina Cuba.Nesse sentido, seu ódio à Ilha é muito maior do que a própria Revolução Chinesa.

A China fazo seu socialismo com peculiaridadespróprias, como diz Xi Jinping, mas ela é umaeconomia socialista de mercado, temmuitas empresas e, as maiores delassão privadas.A propriedade privada existe na China.Em Cuba só agora com o último Congresso éque as coisas começaram a se alterar.Jáseadmitem outras formas de propriedades, quenão a coletiva dos meios de produção.

Então, é projeto doimpério nesta fase final ser agressivo,mas ele está sendo contido pela Rússia epela China e, no caso cubano, será contidoseguramente pela força revolucionária doseu povo consciente, junto e irmanado com o Partido Comunista de Cubae junto com aqueles que participam dogoverno que, inclusive, não têm partido,mas que defendem a soberania cubana, quedefendem as conquistas da revolução.Apesar de todas as dificuldades.

Ninguém em sã consciência nega problemas em Cuba. Por certo eles existem e são muitos. Mas, não se pode negar também o imenso esforço que o governo revolucionário tem feio para enfrentar essas dificuldades.

Como temos dito desde o início das movimentações antirrevolucionárias: a melhor forma de ajudaremCuba neste momento é suspendendoas sançõese os embargos.O povo e o governo cubano saberãoresolver os seus problemas.

Notas

1) Assistam ao importante documentário de Michael Moore, dos EUA, que trata da saúde naquela país, mas termina com uma visita à ilha de Fidel, onde ele leva pacientes doentes que não conseguem ser tratados nos EUA e são tratados integralmente por Cuba e de forma gratuita. Veja neste endereço o filme legendado: <https://bit.ly/3kxWL3V>;

2) Veja quem é Morsi neste endereço: <https://bit.ly/3wSm5nD>;

3) Depósitos de apoio para a Câmara Empresarial Brasil-Cuba – Banco do Brasil, agência 4770-8 conta corrente nº 13844-4. PIX e CNPJ nº 34.131.511/0001-64;

4) Editora Apparte, 640 páginas, 2020, páginas 303 até 329;

5) Minha edição é a 2ª. Editora Campus, de 1989, com 676 páginas.

* Sociólogo, professor universitário (aposentado) de Sociologia e Ciência Política, escritor e autor de 17 livros (duas reedições ampliadas), é também pesquisador e ensaísta. Atualmente exerce a função de analista internacional, sendo comentarista da TV dos Trabalhadores, da TV 247, da TV DCM, do Iaras e Pagus, entre outros canais, todos por streaming no YouTube. Publica artigos e ensaios nos portais Vermelho, Grabois, Brasil 247, DCM, Outro lado da notícia, Vozes Livres, Oriente Mídia e Vai Ali. Todos os livros do Professor Lejeune podem ser adquiridos na Editora Apparte (www.apparteditora.com.br). Leia os artigos do Prof. Lejeune em seu site www.lejeune.com.br. E-mail: lejeunemgxc@uol.com.br e Zap é +5519981693145. Youtube: https://www.youtube.com/c/CanaldaGeopolítica; Facebook: https://www.facebook.com/ApparteLivrariaEditora; Facebook: https://www.facebook.com/professorlejeunemirhan/?ref=pages_you_manage; Twitter: https://twitter.com/lejeunemirhan?s=11; Instagram: https://instagram.com/lejeunemirhan?utm_medium=copy_link.