A volta do fascismo e retrocesso na democracia brasileira

Prof.Lejeune Mirhan - 07-01-2021 3126 Visualizações

Nesta madrugada do dia 12 de maio de 2016, foi concluída a fase final do golpe judiciário-midiático-parlamentar que se deu contra a nossa presidente Dilma, mulher honrada, de luta contra a qual não pesam absolutamente nenhuma acusação.Os fascistas, devem estar exultantes. Ás 11h desta fatídica e inesquecível quinta-feira, de forma sedenta e ávida, eles tomaram de assalto o poder central do país da qual estavam alijados por longos 13 aos, quatro meses e 11 dias...


Tornou-se lugar comum dizer que "agora abre-se uma nova etapa para a esquerda brasileira". Talvez seja verdade. A vida mostrará. De minha parte, compreendendo em profundidade o programa e as propostas táticas de meu Partido, o PCdoB, de forma que vamos continuar defendendo uma ampla frente política, não só de esquerda, mas formada por patriotas e democratas de todos os partidos e por intelectuais, escritores e artistas que não possuem partido.

O programa do golpista e usurpador que assumiu o comando do país – devemos recusar a falar seu nome! – também sabemos qual é. Estão de volta os anos 1990, a era FHC de tão triste memória. Voltam os juros altos para beneficiar os rentistas; volta o arrocho salarial aos trabalhadores; voltam as perdas das aposentadorias e pensões; o salário mínimo deixará de ter aumentos reais; a terceirização ganha força. No campo externo a nossa maior desgraça com repercussões mundiais. Nós nos afastaremos dos BRICS que passará a ser RICS apenas. Voltamos para a órbita dos Estados Unidos da qual nos afastamos desde 2003. Voltará a ALCA ou outra sigla que inventarão. O que é certo é que o MERCOSUL será enterrado. Vai acabar a Unasul e a CELAC organizações sulamericanas democráticas. Nossa inserção na chamada Ordem Internacional será subalterna e de forma subserviente.

Viveremos tempos difíceis. O programa econômico irá trazer mais desemprego e dificuldades maiores aos trabalhadores assim como a precarização do trabalho. Vencem os banqueiros e os industriais comprometidos com o capital financeiro internacional. Vence o imperialismo estadunidense. Vence o dólar como moeda de troca internacional. Ficará mais difícil a criação de uma moeda alternativa no comércio exterior.

No campo dos direitos sociais das mulheres, dos negros, dos LBGT ficarão mais distantes. Abre-se uma temporada de discriminação a todos esses segmentos da sociedade. Se já eram marginalizados, não terão mais voz alguma nesta nova etapa de vida do país. Direitos das mulheres que caminhavam para uma ampliação; dos negros com as cotas; do movimento LGBT que tinham conquistado muitas coisas, todos eles, sem exceção, perderão direitos. Um profundo retrocesso.

No plano educacional iremos regredir décadas. O Ministério da Educação ficará com o partido mais reacionário e fascista deste país, que é o DEM. Pretenderão introduzir o ensino pago nas universidades públicas. Vão desvincular as receitas para a educação determinadas pela Constituição. As tais Organizações Sociais vão passar a gerir escolas e universidades públicas. Com uma visão estritamente empresarial de lucro. Vão acabar as cotas. O Programa de capacitação técnica – PRONATEC – deve ser extinto ou reduzido ao mínimo. O Financiamento Estudantil – FIES – deve também ou acabar ou ser reduzido apenas para dizerem que não acabou. As novas universidades federais criadas pelo governo Dilma sequer sairão do papel. As vagas diminuirão. Não teremos mais concursos públicos para professores. Acabará a autonomia universitária. As trevas da noite cairão nos campi universitários. O ENEM corre risco de acabar e voltarem os vestibulares nas federais.

Os latifundiários ganham e os trabalhadores sem-terraperdem imensamente, pois ficarão muito mais distantes de sua sonhada reforma agrária (que aliás, vinha sendo feita de conta gotas). A luta no campo contra o latifúndio vai ficar mais sangrenta. Aumentará brutalmente a repressão. Os fazendeiros pedem até que o exército intervenha.

Mas, os grandes vitoriosos mesmo foram, sem sombra de dúvida, os meios de comunicação de massa. Praticamente falidas, as famílias Frias, Civita, Mesquita, Marinho, Macedo, Alzugaray e outros detentores monopolistas da mídia, terão um respiro momentâneo. Se já era imensa as verbas publicitárias para essas organizações – só para as Organizações Globo eram 500 milhões ao ano! – agora elas se elevarão a patamares impensáveis. Uma mídia que apoiou abertamente o golpe precisa ser recompensada. Voltarão os empréstimos camaradas para essa gente entreguista e pró-Estados Unidos. O sonho não realizado nos governos Lula e Dilma, de regulação da mídia e contrário à concentração dos meios de comunicação, será definitivamente enterrado. Se o jornalismo equilibrado já era uma raridade, a partir de agora desaparecerá. Veremos apenas propaganda, jamais notícias.A Empresa Brasileira de Comunicação, que administra os canais TVB e NBR, serão transformadas em veículos de propaganda do PSDB, como a TV Cultura de SP virou. Obras pífias do governo usurpador serão mostradas como obras faraônicas. Muitas delas que estavam em andamento do governo Dilma, devem ser encerradas ou terem seus ritmos reduzidos.

O movimento social, que despertou de uma letargia de anos, será duramente perseguido. Crescerão as restrições às liberdades políticas. Seremos perseguidos pelo aparelho de Estado repressor, com a PF à frente e todas as PMs e a Força Nacional. Seremos criminalizados. Haverá prisões com acusações de que “somos terroristas” (sic). Voltaremos a ter presos políticos.

O Ministério Público Federal, que já extrapolava em muito as suas funções, ganhará ainda maior destaque. Como as “apurações de corrupção” eram seletivas – apenas contra um partido – agora serão enterradas de vez contra políticos dos partidos golpistas que assumem o poder central. O poder judiciário terá seu poder multiplicado. Juízes vão ter comportamento como os de Sérgio Moro – herói para uma parcela da classe média reacionária –que manda prender sem prova alguma, condena sem pena e encarcera em masmorras sem prazo para que as pessoas saiam. As tais delações premiadas – que também só valem contra um determinado partido de esquerda – continuará sendodesprezado tudo que disser respeito à direita fascista, como o PSDB, DEM, PPS e outros satélites ao seu redor.

Não precisa ser profeta para prever todas essas coisas. Está escrito com todas as letras no programa do usurpador a que jocosamente chamou de “ponte para o futuro” (sic). Será o caminho para o passado, para a desgraça do país, que virará um pária internacional. Eles jamais esconderam as suas intenções. Com a cobertura da mídia, fazem hoje abertamente o que faziam às escondidas tempos atrás e vinham sendo derrotados em seus intentos.

No entanto, nem tudo está perdido. Ainda que venhamos a ter sofrimentos e sacrifícios para o povo, em especial para a parcela mais pobre e desfavorecida da sociedade, é preciso também crer que um governo ilegítimo, sem votos, usurpador como esse, composto por réus, investigados e condenados pela justiça até em segunda instância – como o próprio usurpador mor –metidos em corrupção até a medula, não deve ter sustentação.

Não basta o apoio total da mídia. A esquerda e os patriotas têm as redes sociais, tem os blogues alternativos, possuem páginas na Internet onde pode-se ler um pensamento alternativo a tudo que será veiculado pelo governo golpista.

A união das esquerdas socialista (a verdadeira) e comunista, dos democratas e dos patriotas em geral, com apoio de todas as entidades de massa organizadas representativas dos setores sociais brasileiros devem manter a sua unidade. Devemos, como na época da ditadura sanguinária dos militares de 1964, manter a nossa união o mais amplo possível, incluindo personalidades, religiosos, artistas que não têm militância partidária. Os partidos de esquerda como o PT, PCdoB, PDT, PSOL, PCO e PCB precisam estabelecer as bases para a unidade da esquerda se possível.

Nesse sentido, vem jogando papel destacado a Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo que reúne o que temos de melhor organizado de nossa sociedade. É preciso dar organicidade à Frente pois não temos tradição de trabalho em frentes políticas como outros países (como na África do Sul Uruguai, Portugal, Palestina etc.). Manifestações de rua, paralisações em protesto contra o governo greves localizadas, escrachos, panelaços, trancaços e outras formas novas de ação política devem ser executadas. Ainda que não tenhamos essa tradição, as centrais sindicais que se colocaram contra o golpe devem pensar na possibilidade da realização de uma Greve Geral contra o governo de usurpação.

Assim, usando a linguagem militar, o que ocorreu esta madrugada, na calada da noite, foi a perda de uma batalha. Mas a guerra continua. Como já vínhamos travando mesmo sob os governos democráticos de Lula e Dilma. Não há dúvida de que escolhemos o lado certo da história.

Os golpistas e fascistas tiveram que colocar a sua cara para serem publicamente reconhecidos. Tais como os golpistas que fizeram 1964 e entraram para o lixo da história, estes seguirão o mesmo caminho.

* Sociólogo desde 1981. É especialista em Política Internacional (1995) pela ESP. Fez mestrado em Filosofia da Educação pela PUCC (1982). Foi professor de Sociologia, Ciência Política da Unimep (1986-2006). Foi presidente da Federação Nacional dos Sociólogos do Brasil (1996-2002) e Vice-Presidente de Relações Internacionais da Confederação Nacional das Profissões Liberais (2002 a 2005). Presidiu o SINDSESP (1997-2010). Possui nove livros publicados nas áreas de Política Internacional e Sociologia. É colaborador dos portais Fundação Grabois, Vermelho e da revista Sociologia da Editora Escala. Exerce hoje a função de analista internacional especializado no Mundo Árabe onde já visitou a Palestina, Jordânia, Síria, Líbano e Emirados Árabes Unidos.

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