O novo presidente do Irã e a geopolítica mundial

Prof.Lejeune Mirhan - 11-08-2021 3261 Visualizações

Desde quinta-feira, dia 5 de agosto, o Irã já tem o seu oitavo presidente desde a Revolução Islâmica de 10 de fevereiro de 1979, há 42 anos, revolução essa, pesadelo dos Estados Unidos. O novo presidente, Dr. Ebrahim Raisi, doutor em direito e professor universitário, é tido pela mídia de direita e sionista internacional, como ultraconservador. Pretendo neste pequeno novo ensaio, discorrer sobre os desdobramentos para a geopolítica mundial deste novo período, que se insere nas grandes mudanças que estamos presenciando mundialmente.

Vivemos um fato político muito importante na semana passada que a imprensa brasileira não deu nenhum destaque. A imprensa internacional, por sua vez, deu muito destaque. O evento foi a possedo Dr. Ebraim Raisicomo novo presidente da República Islâmica do Irã.

Querodetalhar um pouco mais esse tema, em função da tensão que nós estamos presenciando na geopolítica mundial, a partir do Golfo pérsico. Eu vou fazer algumas considerações sobre o novo cenário na geopolítica mundial, com essa troca de Presidência no Irã.

SaiHassan Rohanie entra Ebraim Raisi. Issotem uma diferença significativa.O que agora terminou seus oito anos de governo, o Rohani,não era na eleição de 2013, o candidato preferencial do establishment islâmico, nem na sua reeleição em 2017.

O Irã é uma República Islâmica democrática, a despeito de muitos os que se pretendem analistas internacionais e falam exatamente o contrário.Éuma democracia que eles construíram nos seus 42 anos da revolução.Então, não cabe a nós opinar.A nós, cabe respeitar. Apenas isso. Nossa prática não é da interferência e ingerência em assuntos internos de outros países. Isso diz respeito às decisões de seus povos e seus governos. Como não queremos que façam isso conosco, não devemos fazer com os outros. Isso nos lembra a Paz de Westfália, de 1648 (1).

Aliás, o que épreciso dizer é que todos os encontros daschancelarias da Rússia e da China, quesão hoje os dois maiores aliadosestratégicos no mundo para a contençãodo imperialismoestadunidense,quando eles se encontram, eles sempresoltam documentos e notas, bem comoartigos na imprensa, ponderando que não há um modelo único dedemocracia.

Quemé que disse que ademocracia ocidental é melhor que ados iranianos?Quem é que disse que a democraciados Estados Unidos – que não é umademocracia – do meu ponto de vista, é o melhor modelo do mundo. Lá a eleição para presidente não é direta.Existem muitas restrições ao registro do eleitorpara exercer o direito de voto em pelo menos 15 estados.

A posse do dr. Raisi contoucom 73 delegaçõesde países estrangeiros que mantém relações diplomáticas com Teerã, inclusive, algumas daquelasmonarquias do Golfo,que têm muitasdiferenças com a RepúblicaIslâmica do Irã.Umaposse muitoimportante.Raisi tem 60 anos, e é muito experiente.

Ele participou ativamenteda revolução, em 10 de fevereiro de 1979,quando era jovem e exerceu muitos cargos, inclusive, oequivalente a chefe do Poder JudiciárioIslâmico. Eu quero começardizendo quehá um claro fracasso da política externa queJoeBiden, dito democrata, estádesenvolvendo para o mundo.

Esta é umaopinião que eu vou consolidando.Mas, não é este o objetivo destetexto, mas sim emitir minhaanálisesobre a política externa apenas no que diz respeito ao Irã,que eu não poderia deixar de falar, poresteensaio especial.

A questão central hoje, doponto de vista dos interesses do Irã e dosEstados Unidos, é a questão do AcordoNuclear estabelecido e assinado em 2015sob os auspícios dos Estados Unidos, soba presidência de Barack Obama,que tinha Biden como vice-presidente.

Todosos analistas, eu não vi nenhuma exceção, diziam queera certo que o Biden voltaria para oacordo quefoi denunciado por Donald Trumpquando ele tomou posse em janeiro de2017. Ele denunciou e saiu.E, até agora,dia 20 de agosto próximo vaicompletar sete meses, 210 dias, de governode Biden e ele não só não voltou ao acordo, como está fazendo exigências paravoltar.

Euacho isso absolutamentedescabido. Porque, você só pode discutirum contrato, um acordo, um documentofinal de uma conferência que vocêparticipe. Comoé que você vai discutircláusulas de um acordo que já tinha sidoassinado em 2015,se você não é mais parte do acordo que continua sem você.

Isto, porque faziam parte do acordo, cinco membros doConselho de Segurança. OsEstados Unidossaíram, mas ficaram França, Inglaterra, Rússiae China.A ONU chancelando e mais ainda a Alemanha.Porisso que dizia P5+1.Agoraé P4+1.

O acordo continua.Porcerto, o Irã não se sente naobrigação de cumprir exatamente todas as cláusulas, porqueé um acordo que ficou sem a maior potência imperialista do planeta, que não é mais hegemônica.E eles estão sedando ao luxo de não cumprir a principalcláusula do acordo que dizia que oenriquecimento do urânio se daria nolimite de 3,96%, que é o suficientepara muitas coisas, em relação ao urânioenriquecido.

O Irã não querfabricar uma bomba, é contra o armamento nuclear. O Irã está enriquecendo próximo de 20% e não tem a menorpossibilidade de fazer uma bomba, porque precisa enriquecer a 90%.O Irã precisaria de centenas, talvezmilhares de novas centrífugas, o que demanda muito tempo.

Agora Israel, que é inimigovisceral da República Islâmica do Irã, estáfazendo “terrorismo”, dizendo que o Irã já estáperto de obter a sua bomba, o que não é verdade,absolutamente. Uma grande mentira. É um terrorismo que eles fazemmundialmente, inclusive, paraimpedir que os Estados Unidos retornemao acordo, que é o que Israel não quer.

É possível perceber a força do EstadoSionista de Israel que bloqueia a voltados Estados Unidos ao acordonucelar, que é muito bom. O nome do acordo, nasigla inglesa, é: JCPOA (JoitComprehensive Plan of Action), traduzindo, PlanoConjunto de Ação Abrangente.

Ele não tem o nome de acordo nuclear.Então,essa atitude dos Estados Unidos,reflexo da falência da política externaimplantada por Biden, que se diz democrata,pouco alterou a políticado fascista Donald Trump,de hegemonismo. Em algunsaspectos Biden está conseguindo ser piordo que Trump.

Fazendo um parênteses, eu não estou entre osanalistas que disseram, na época dacampanha dos Estados Unidos em novembro de 2020, que Biden eTrump são a mesma coisa.Nãoé amesma coisa. Tantointerna quanto externamente. Noentanto, é fato, que em alguns aspectos dapolítica externa, Biden está sendo pior.

Porque ele cede à pressão, neste momento, do sionismo internacional, paranão voltar ao acordo? Israel está fazendoameaças. Em um momento muito tenso no Golfo, onde aconteceu no dia 30 de julho umataqueque, provavelmente, é um ataque dechamada “false flag” (falsa bandeira) enão se sabe quem é que atacou o navio debandeira liberiana, de propriedade de umisraelense.

Israel, imediatamente, apontou o dedopara República Islâmica do Irã, que negaperemptoriamente que tenha feito isso.Umataque desse tipo pode ter sido feito pormuitos grupos, inclusive gruposguerrilheiros que atuam em vários paísesda região, como Iêmen, Iraque, Síria,Líbano e Palestina. Mesmo ali, os guerrilheirosque resistem às investidas no Norte Israel e Sul do Líbano, eles têm drones, mísseis e tudo poderia serfeito por eles. Hoje qualquer um pode adquirir um drone de longa autonomia por dez mil dólares.

Quando Israel compra essa narrativa ea divulga, praticamente éunânime esta opinião mentirosa,sem provaalguma, praticamente vira a opiniãointernacional.Todomundo acreditaexatamente nisso. Vejam a força dosionismo.

Redes mundiais de televisões e agências de notícias dão isso como verdade absoluta, o que por si só é um verdadeiro absurdo. Quem menos têm interesse em uma guerra no Golfoe não quer isso, éo Irã. Um país de paz.Isto, porque o Irã é um paísverdadeiramente muçulmano.

Pelo fato de eu estudar aquela região, quero dizer para vocês que eu estudo oprincipal livro, que é o mais importante para os muçulmanos, o Alcorão Sagrado. Nele está escrito, de forma muito clara, a proibição de um muçulmano verdadeirosero que inicia uma agressão. Não pode ser ele oagressor. No versículo 190 diz textualmente: “Combatei, pela causa de Deus, aqueles que vos combatem; porém, não pratiqueis agressão, porque Deus não estima os agressores” (2).

E, o 191diz assim:“Matai-os onde quer se os encontreis e expulsai-os de onde vos expulsaram, porque a perseguição é mais grave do que homicídio. Não os combatais nas cercanias da Mesquita Sagrada, a menos que vos ataquem. Mas, se ali vos combaterem, matai-os. Tal será o castigo dos incrédulos [grifos nossos].”

O livro sagradodá as instruções, inclusive, de comofazer a guerra: proteger mulheres,proteger crianças, idosos, no campo doinimigo. Ouseja, é claro que o verdadeiro muçulmanonão deve tomar a iniciativa do ataque.

O Irã é um país que tem duasestruturas: a estrutura do poder secular,civil com seu Poder Judiciário, comoem todos os países. Tem também um parlamento,com muitos partidos políticosfuncionando. Há, inclusive, deputadosjudeus.

A comunidade judaica é feliz da vida com o governo do Irã, porqueeles não são perseguidos. Porque também tem muitas passagens nas práticas do profeta Mohammad e pelo menos um dos Califas,chamado Ali Abu Talib, que devam exemplos de que os muçulmanos deveriamproteger os seguidores do livrosagrado, a Bíblia cristãe judaica. Eles não podem ser atacados.

Porissoque eu tenho dito que aquele grupoterrorista que se chama Estado Islâmico,não é nemEstado e, muito menos,islâmico. Eles cortam a cabeça de cristãos ede muçulmanos xiitas, que não é permitido pelo Islã.

Então, a estrutura civile secular,será presidida pelodoutor Raisi. Mas, existe também aestrutura do Poder Religioso Islâmico,que tem muita importâncianaquele país, que é encabeçadapelo Líder Espiritual do Irã, o AiatoláAli Khamenei, que sucedeu o AiatoláRuhollah Khomeini, que morreu em 1989, dez anosdepois da revolução de 1979.

Então,Khamenei governa o poderespiritual do Irã. Estão subordinados a este poder são as ForçasArmadas,a política externa, incluindo apolítica nuclear e a GuardaRevolucionária Islâmica, que é temida pelo imperialismo, que acusaessa organização terrorista e que era comandada pelomajor-general QaseemSuleimani, assassinado por Donald Trump, em 7 de janeiro de 2020.

Quem a comanda hoje é o general Hossein Salami.Elesprestam a solidariedaderevolucionária, não enquanto muçulmano,mas enquanto revolucionários eanti-imperialistas, em qualquer lugar queeles são chamados.

Não foi só oexército sírio-árabe quevenceu a guerra de agressão à Síria, umaguerra terrorista movida por potências regionais contra a Síria, apoiada pelos EUA.Foramguerrilheiros do Hezbollah que se deslocaram para ajudá-los.Guerrilheirosdeum braçointernacional da SolidariedadeRevolucionária dos Povos, membros da Guarda Islâmica também foram para a Síria lutar contra o terrorismo.Isso é algo que os comunistas faziam no passado.Isso ocorreu por exemplo, naGuerra Civil Espanhola,em 1936.

Quantosbrasileiros foram para a Segunda Guerra ajudar os “partigiani” na resistência ao nazismo. Hoje,quem faz isso são eles.Osguerrilheiros muçulmanos largam tudo, deixam a família, deixam filhos, para secolocar ao lado de revolucionários, quelutam contra o imperialismo no mundointeiro e contra o sionismo.

O Irã quer que os EUA voltem ao Acordo Nuclear, não tenho dúvidasdisto. No limite, o Irã tem uma absolutaconvicção.Tenho convicção que o Irã,no limite, restabeleceriarelações diplomáticas com todos os países que pedirem para abrir umaEmbaixada em Teerã. Istovale para osEstados Unidos também, se eles quiserem.Eutemoque eles não queiram a paz.

Vale também para a Arábia Saudita. Até a ArábiaSaudita mandou um representante do rei para a posse do novo presidente Raisi. Não era um príncipe nem um embaixador, mas um conselheiro dorei.Mas,o país estava representado. Atravésdo Iraque, a Arábia Sauditafez consultas sobrecomo o Irã reagiria se ArábiaSaudita pedisse para reabrir embaixadalá. Aliás, quando assassinaram o major-generalSoleimani, dia 7 de janeiro de 2020, ele trazia nobolso essa resposta. Ele estava ali como diplomatae mensageiro da paz enão estava comogeneral e, ainda assim, foi assassinado.

Então, mataram o mensageiro que trazia a respostada Arábia Saudita,via primeiro-ministro do Iraque, que transmitiria ao rei saudita, pois eles não se falamdireto por não terem relações diplomáticas.Eunão sei o conteúdo daquelacarta, mas eu desconfio que a respostaera sim: nós aceitaremos, vamos abrir aembaixada sem nenhum problema. Isto, porque,o Irã é assim.

Os xiitas são assim. Elessão da paz, eles são quietistas, introspectivos, reflexivos, masé bom não brigar com eles.Diferentedos cristãos que falam que ao receber um tapa num lado do rosto deve-se dar o outro, elesjamais darão oprimeiro tapa, mais cuidadose vocêder o primeiro,a resposta será dura.

Tanto que temdeclarado que qualquer agressão aoIrã nesse momento, poderá significar até uma terceira guerramundial. Isso porqueao lado do Irã estão ninguém menos que Xi Jinping da RepúblicaPopular da China, ele que recentementeassinou um tratado de US$ 500 bilhõesde dólares por 25 anos com Teerã e,Vladimir Putin, presidente da FederaçãoRussa,que mantêm entre si uma aliança estratégica.

Elesfundaram em 2001, completando 20 anoseste ano, a Organizaçãode Cooperação de Xangai-OCX. Vamos ouvirfalar muito disso.A sigla inglesa é SCO (Shangai CooperationOrganization), uma organizaçãoclaramente militar,secundariamenteeconômica e, secundariamente, política. O Irã é um observador e será nas próximas semanas ou meses, elevado à condição de membropleno que já tem Índia, Paquistão, Uzbequistão, Tajiquistão e vários outros países quefazem parte também.

Então, nós temosumasituação nova e aí, entramos noaspecto sobre qual é o limite da eficácia das sanções que os Estados Unidosinsistem em impor para o Irã. De meu ponto de vista a eficácia é zero.Não há um analistainternacional que corrobore com a teoriafurada do Departamento de Estado dosEstados Unidos, que é a mesma que vemdesde George W. Bush (filho), passando por Obama, por Donald Trump e continua com Joe Biden, sem nenhuma alteração.

Nãose podequerer governar o mundo porsanções. Isso nãopode ser. Está aí ocaso de Cuba que vai fazer 60 anosemfevereiro do ano que vem, vivendo sobsanções, sobre embargo econômico. Mas, Cuba não caiu e não cairá.

Sãodezenas depaíses que têm sanções, inclusive a Chinae a Rússia, com todo o poder que eles têm,sanções vindas dos Estados Unidos. A China vende, por ano, para os EstadosUnidos 500 bilhões de dólares e eles, vendem para a China só 100 bilhões. Eles ficam devendo, todo ano, 400bilhões. E, mesmo assim, elesaplicam sanções.É uma política externaderrotada.Governarpor sanções é uma política que não funciona.

A mídia brasileira ignorouesta nova realidade geopolítica no mundo,omitindo ou distorcendo o verdadeiro perfil do Dr.Ebrahim Raisie isto não é qualquer coisa. A imprensa dizque ele é fundamentalista, ultraconservador. Como assim conservador?

Meus amigosiranianos me explicaram que, ser dedireita, para nós no Brasil significa ser de esquerda no Irã. E vice-versa. Tenho notícia que a esquerda iraniana está lutando paraderrubar o governo da República Islâmicado Irã. Mas, eu não vou entrar nosassuntos internos, que é assuntodo povo iraniano.

O clima que o mundo vivia em 2012, já eram fortes as sanções para que o Irã não desenvolvesse seu programa nuclear, e estasde nada adiantaram. Três anos depois em 2015, osEstados Unidos tiveram que mudar deposição e acabaram cedendo ao assinar oAcordo Nuclear, que é considerado ou erapelo menos na época do Obama e do Bidencomo vice, considerado um grande acordoe chancelado pela ONU.

Foi uma grandevitória o Irã ter toda a liberdadede desenvolver o seu programa nuclear, sem amenor possibilidade e nenhuma desconfiançade que ele vai fazer a bomba.Nolimite,ele tem direito a isso, qualquer país domundo tem esse direito. Por que sótem novepaíses que tem a bomba? São os membros do chamado Clube atômico (3).

Então, todas essas pressões não tiveramnenhuma eficácia. Do ponto de vista doquadro geopolítico mundial, parafazer com que o Irã modifique de posição. Ele não vai modificar e não vai ceder a suasoberania.O doutor Raisi quando chamado de ultraconservador, na verdade, eleestá sendo mesmo éultra-antiimperialistae ultra antissionista, é ultra-anti-Estado de Israel, pelo que Israel faz com o povopalestino, tomando diariamente, centímetropor centímetro, quadrado das suas terras.

Hojerestam nas mãos dos palestinos,talvez nomáximo 8% do seu território histórico. O Irã e a Síria são hoje ospaíses mais solidários para com os palestinos.Portanto, a fraqueza da política externa dogoverno Joe Biden,que já vem de Donald Trump, é tal, que elesnão conseguem, sequer impedir quea Rússia exportegás para a Europa, através do gasodutoNord Stream 2, que já está nafase final de construção.Ainda mais pedir ao Irã paraparar o seu programa nuclear.

Porisso, os analistas dizem que seria melhoros Estados Unidos voltarema tentarargumentar e discutir e até controlara aplicação do acordo, comomembro dele.Não se pode propor modificações em um acordo que não se participa dele. Porisso, uma das minhas conclusõesinequívocas,não há como não dizer que éuma política externa derrotada, fadada aofracasso, sem futuro.

E o Irã se fortalece a cada dia. Ele já lidera o chamado arco daresistência no Oriente Médio, queenfrenta o sionismo e enfrenta oimperialismo. Integram essa aliança a Síria,o Líbano,o Iraque e o Hezbollah.Então, essa é uma situaçãonova que estamos vivendo. Portanto, essa primeira conclusão é amais importante.Queresta ao governo deJohn Biden, se for esperto, voltar aoacordo nuclear.

O novo presidente Doutor Ebrahim Raisi, que tomou posse no dia5 de agosto, assume o país neste novocontexto da geopolítica mundial onde Israel está dizendo que vai atacar o Irã,a partir da convicção,sem provanenhuma, de que eles têm de que foi o Irã que atacou o petroleiro deles, que é de propriedade de um israelensemilionário.

É uma ameaça, uma bravata.Eunão vou dizer aqui que Israel não poderáatacar, mas acho muito difícil que issoaconteça. Israel hoje está sobre a mira decentenas,para não dizer de milhares demísseis que estão posicionados emterritório iemenita, sírio, iraquiano, libanês e do próprio Irã.O Irã têmmísseis que atingem quase que o mundointeiro hoje, disparados para oeste ou para leste.

De que maneira Israel atacaria o Irã? Tecnicamentefalando,a autonomia dos aviões israelenses dalinha“F”, da Boeing, eles até têm autonomia,de Tel Aviv até Teerã, em linha reta, ida e volta ocombustível seria suficiente, mas isso seriaimpossível, porque teria que passarsobre o espaço aéreo da Síria e doIraqueque está fechado para aviões israelenses, ainda mais sabendo que são aviõesmilitares que estão indo para atacar umpaís irmão.

Eles poderiam ir então peloMediterrâneo, dar uma volta e passar porcima da Turquia.Eutenho dúvida de que aTurquia permitiria.Atacariao Irã e voltaria. Aí, não teria autonomia suficiente.Vaiterque parar em algum lugar ou serreabastecido no ar. Então,tecnicamentefalando,está muito difícil.

SeosEstados Unidos participarem do ataque, aíhárisco real de uma Terceira Guerra Mundial.Poderão fazer mas, no limite, eu acho que se quiserem fazeruma guerra,será contra aChina e não contra o Irã. O que seria pior, fazer uma guerra contra aChina ou com o Irã? Porque, tem doisbilhões de muçulmanos no mundo.Sejam xiitas ou sunitas, eles permitiriam queseus irmãos fossem mortos?

OsEstados Unidos podem, então autorizar obombardeiro a uma distância bem menor, saindo da maior base da OTAN que, lamentavelmente,está em território de paísmuçulmano, que é a base de Incirlik, quefica na Turquia.

Euduvido que o presidente turcoRecep TayyipErdoganpermita isso, mesmo sendo uma base da OTAN da qual ele é membro. Então, acho que tem muita bravata, mas eunão vou dizer que seja impossível que issoaconteça. Euprefiro usar o termo “improvável” queaconteça, mas não é impossível.

Euatéfaço um apelo para que Israel pense muitasvezes antes vir a tomar essa iniciativa,porque o seu famoso e poderoso exércitoem temosde poder bélico terrestre pode ser grande, mas de que adiantaria isso? Israel faz bravatas e não vaiconseguir cumprir a “promessa”.

Eu finalizo dizendo que aposse do Dr. Raisi tem um significadoespecial, exatamente pela forteligação dele como líder espiritualiraniano Ali Khamenei. Eles sãomuito ligados. Aliás, navéspera da posse, ele esteve com Khamenei e jurou sob a Constituição iraniana, perante o líder espiritual.Então,primeiro foi com o líder espiritual e, no diaseguinte é que se deu a solenidade protocolar e diplomática com convidados estrangeiros.

O Irã vive hoje,o que euclassificaria como um país e uma economia daresistência.O Irã sabe e sempre soube,desde 1979,que sobreviver com todas essasrestrições, embargos e sanções e os oitoanos de guerra,quando Saddam Hussein, a serviço dos Estados Unidos, bombardeou de1980 a 1988 o país, a jovem Repúblicado Irã, nada seria fácil para eles.

Então, o país se fortalece nesse processo. E, soba presidência de Ebrahim Raisi, a tendência é que os Estados Unidosfiquem cada dia mais isolados noOriente Médio.Eudiria até que elesestão saindo de lá, retirando suas tropas, ainda que não na totalidade.Na medida em que elesvão saindo, na velocidade que eles saeme naquantidade de soldados que eles desocupam,inversamente proporcional,vão chegandoos chineses e os russos.

A Rússia já está láhá muito tempo,na Síria e nos países com os quais ela está mantendo os seus acordos. E, a China, agora também vai secolocar à disposição de todo o povoárabe doOriente Médio e suas respectivas etnias. Ali existem muitas etnias que vivem naquela região.E todas se unirão em defesa do Irã, em aliança com a China e a Rússia. O fracasso da política externa estadunidense encontra-se em um beco sem saída. E serão derrotados.

Notas:

  1. Para maiores esclarecimentos sobre a Paz de Westfália, veja este link: <https://bit.ly/3ixBbLq>;
  2. Minha edição do Alcorão é a mais recente, a 19ª edição, de 2019, da tradução direto do árabe do Prof. Samyr El-Hayek, editado pela MarsaM Editora Jornalística de São Paulo, com 793 páginas. A surata 190 mencionada é a 2ª, chamada Al Bacara e está na página 39 desta edição;
  3. São membros do Clube Atômico os EUA, Rússia, China, Inglaterra, França, Paquistão, Índia, Coreia Popular e Israel, que jamais admitiu que tenha ogivas, mas fala-se em mais de 200 ogivas nucelares.

* Sociólogo, professor universitário (aposentado) de Sociologia e Ciência Política, escritor e autor de 17 livros (duas reedições ampliadas), é também pesquisador e ensaísta. Atualmente exerce a função de analista internacional, sendo comentarista da TV dos Trabalhadores, da TV 247, da TV DCM, do Iaras e Pagus, entre outros canais, todos por streaming no YouTube. Publica artigos e ensaios nos portais Vermelho, Grabois, Brasil 247, DCM, Outro lado da notícia, Vozes Livres, Oriente Mídia e Vai Ali. Todos os livros do Professor Lejeune podem ser adquiridos na Editora Apparte (www.apparteditora.com.br). Leia os artigos do Prof. Lejeune em seu site www.lejeune.com.br. E-mail: lejeunemgxc@uol.com.br e Zap é +5519981693145. Youtube: https://www.youtube.com/c/CanaldaGeopolítica; Facebook: https://www.facebook.com/ApparteLivrariaEditora; Facebook: https://www.facebook.com/professorlejeunemirhan/?ref=pages_you_manage; Twitter: https://twitter.com/lejeunemirhan?s=11; Instagram: https://instagram.com/lejeunemirhan?utm_medium=copy_link.