Já tarde da noite, do dia 26 de abril de 2017 – que entrará para a nossa história como mais um dia infame contra os trabalhadores – a base governista golpista do usurpador Temer ligou seu rolo compressor e aprovou a maior e mais regressiva reforma contra os trabalhadores, praticamente revogando a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, morta aos 74 anos (a ser completada segunda-feira, dia 1º de maio).
Não pretendo aqui entrar nos efeitos malévolos, nefastos na verdade, das mudanças propostas, mas sim apresentar alguns dados sobre o comportamento das bancadas e dos deputados.
O resultado final foi de 296 votos a favor e 177 contrários, ou seja, a favor foi 62,57% dos 473 deputados presentes e 37,43% votos contrários. Faltaram 40 deputados (7,79% por algum motivo, justo ou envergonhado, resolveram não comparecer).
Quero comparar com o fatídico dia 16 de abril de 2016, quando, há um ano, a Câmara autorizou a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma. Naquele momento, compareceram para votar 504 deputado (apenas 9 ausentes, ou 1,75%). O resultado foi de 367 votos a favor, ou 72,81% e 137 contrários, ou seja, 27,19%. Vê-se que exatos 40 deputados moveram-se de um campo golpista/situacionista e votaram contra a orientação do governo anti-povo e anti-trabalhador. Isso significou 7,79% de toda a Câmara.
Sobre o comportamento das bancadas
É da tradição legislativa as lideranças orientarem como devem votar seus deputados. Apenas o PHS liberou a bancada para votar como quiser. As outras orientaram ou sim ou não.
Pelo SIM, foram os seguintes partidos: DEM, PMDB, PSDB, PP, PPS, PR, PRB, PSC, PSD, PTB e PV (em termos de bancadas mais expressivas).
Pelo NÃO, foram os seguintes partidos: PCdoB, PDT, PROS, PSB, PSOL, PT, PTdoB, REDE e SDD.
Orientar votação não significa, aqui no Brasil, que os deputados acatem. A nossa tradição de votar em pessoas e não nos partidos produz essa anomalia, impossível de ser ver em países europeus, onde se vota em lista partidária e não em pessoas. Por isso apenas na oposição pudemos ver bancadas votando 100% de acordo com a orientaçãoda sua liderança. Esse fenômeno ficou cristalino com os partidos: PT, PCdoB, PSOL e REDE. Nenhum outro, mesmo no campo que se opunha ao projeto de reforma trabalhista isso se deu. Foi o caso dos partidos: PDT, SDD, PTdoB e PSB. Aqui variaram muito os percentuais. Mesmo no campo da direita só houve unanimidade no partido mais de direita, ideológico que temos: o DEM (ex-PFL, ex-PDS, ex-ARENA, partidos que apoiaram a ditadura militar de 1964). No PSDB, ainda que apenas uma deputada entre 43 tenha votado contra – a honrada Geovânia de Sá, de SC – não se chegou a cem por cento.
Passo a mostrar esses percentuais dos que votaram NÃO.
DEM – 0%
PCdoB – 100%
PDT – 93% (um contra em 16)
PEN – 33%
PHS – 66%
PMB – 100% (apenas um deputado)
PMDB – 12% (7 votos em 58 votantes)
PP – 21%
PPS – 30% (3 votos em 10)
PR – 34% (7 votos em 34 votantes)
PRB – 22% (4 votos em 18 votantes)
PROS – 80% (4 votos em 5 votantes)
PRP – 0% (um deputado a favor)
PSB – 53% (16 votos em 30 votantes)
PSC – 20% (2 votos em 10 votantes)
PSD – 15% (5 votos em 33 votantes)
PSDB – 2% (um voto em 43 votantes)
PSL – 50% (um a favor e um contra)
PSOL – 100% (bancada de seis deputados votantes)
PT – 100% (bancada de 52 votantes)
PTB – 23% (4 votos em 17 votantes)
PTdoB – 75% (3 votos em 4 votantes)
PTN – 41% (5 votos em 12 votantes)
PV –33% (2 votos em seis votantes)
REDE – 100% (bancada de quatro deputados)
SDD –61% (8 votos em 13 votantes).
Como já disse, unanimidade na direita só no DEM. E alguns da esquerda não atingiram isso.
Quero tecer breves comentários:
Por fim, uma observação geral. O governo vem perdendo a consciência das pessoas com relação à outra famigerada reforma, a da previdência. Se fosse votada hoje jamais seria aprovada (ela precisa 257 votos). Isso porque a oposição, as entidades da sociedade civil conseguiram se contrapor à propaganda dos golpistas, travestida de “notícias” nos meios de comunicação de massa, que apoiam descaradamente essa reforma. Por isso seu adiamento.
Foi exatamente por isso – a perda da batalha das consciências – que o rolo compressor foi acionado, pilotado pelo anão direitista Rodrigo Maia, do DEM, e tudo foi aprovado na forma vapt-vupt. A oposição e os sindicatos não conseguiram reverter a situação no sentido de pressionar os deputados a votarem contra.
Esperamos que a GREVE GERAL desta sexta, dia 28 de abril, possa mudar tudo isso, de forma que nossa pressão agora se volta para o Senado Federal, uma Casa de Leis que, hoje, está se mostrando mais propensa a votar contra os interesses dos golpistas, como demonstrou ontem nas votações do projeto que pune o abuso de autoridade e retira foro privilegiado de mais de 30 mil “autoridades” no país.
Tenho esperança e convicção que faremos a maior greve da história do nosso país.
* Sociólogo, analista internacional, professor universitário e escritor.