Quando usamos o termo correlação de forças no mundo estamos querendo analisar quais são as forças políticas em cada um dos Campos existentes na sociedade. Para efeitos de análise neste livro adotamos basicamente a existência de dois Campos fundamentais: O campo do imperialismo liderado pelos Estados Unidos e o campo da Resistênciacuja as forças ainda não estão sob um comando unificado.
O mundo que vivemos hoje é ainda um mundo unipolar. Ou seja, existe apenas um grande líder e um grande Polo que são os Estados Unidos e seus países satélites. Esse mundo é decorrente ainda do longínquo ano de 1991 quando, em dezembro desse ano, a União Soviética deixou de existir. Os Estados Unidos haviam vencido a guerra contra o Iraque (na verdade uma agressão, e não uma guerra). Nestes quase trinta anos que se passaram, podemos dizer que o mundo vive um processo lento de transição para a multipolaridade.
O domínio dos Estados Unidos sobre a totalidade do mundo é imenso. Esse domínio ocorre de forma muito clara no campo econômico e cultural mas sobretudo no campo militar. Estima-se que esse país possua em torno de mil bases militares espalhadas por todos os continentes da Terra, com um contingente de 1,5 milhão de soldados. Suas sete frotas Navais – sempre lideradas por um porta-aviões nuclear e composto por mais de 10 navios auxiliares – estão espalhados pelo mundo de tal forma que qualquer país possa ser acessível para um ataque aéreo sem que seus jatos precisem de uma pista em terra para decolar.
No entanto, é certo que existem novos polos em construção. Os mais importantes deles aglutinam-se em torno da sigla BRICS, que são os países Brasil, China, índia, Rússia e África do Sul. O golpe desfechado no Brasil contra a presidente Dilma Rousseff em 2016 visava, entre outras coisas, se não retirar o "B" da sigla BRICS, pelo menos enfraquecer o grupo. Pessoalmente, não creio que o Brasil sairá dos BRICS. Em 2019, inclusive, deveremos ficar com a presidência rotativa do bloco. Masseremos quase que como um espião interno, pois o novo governo que tomará posse em janeiro deste ano estará subordinado aos Estados Unidos.
As instituições do campo imperialista
Vamos listar a partir de agora todas as instituições que compõem esse campo do imperialismo. Começaremos pelas instituições econômicas e, depois, as instituições de formação de pensamento. Ao final, agregaremos mais algumas forças que integram esse campo. Vamos a elas:
A data formal da Constituição do Fundo Monetário Internacional (International Monetary Found, na sigla inglesa) deu-se em 27 de dezembro de 1945. Ao todo, 29 membros da ONU eram seus membros, mas somente em abril de 1964 as Nações Unidas reconheceram formalmente o FMI. Nunca é demais lembrarmos nesse período a Inglaterra já não era mais a potência hegemônica no mundo. Da mesma forma como sua libra esterlina não servia mais como principal moeda de troca no comércio internacional.
Um dos debates que polarizou a conferência de Breton Woods foi exatamente a adoção de uma nova moeda internacional que seria usada no comércio entre países. É claro que estamos falando do dólar estadunidense. O chefe da delegação inglesa – Lord John Maynard Keynes –, lutou bravamente para defender os interesses do seu país. Acabou aceitando a imposição da nova moeda, mas em troca exigiu que o dólar americano tivesse seu lastro equivalente em ouro. Foi fixado que uma onça Troy valesse a 31,1 gramas de ouro. Isso foi aprovado na conferência. Ou seja, qualquer cidadão do mundo poderia ter seus dólares e resgatá-los pelo equivalente em ouro junto àCasa da Moeda dos Estados Unidos. Isso foi feito, e o ouro era depositado no local chamado Forte Knox (nome de uma pequena cidade no interior do Kentucky).
É importante registrar que essa paridade perdurou por pouco tempo. Ela durou até 15 de agosto de 1971. Portanto, apenas 27 anos. O então presidente dos Estados Unidos – Richard Nixon – anunciou nessa data que estava rompendo a paridade a partir daquele momento. Dessa forma, o dólar passou a ser apenas um papel impresso na cor verde sem nenhum lastro equivalente em ouro. Mas nós nos perguntamos: Por que que o mundo inteiro continuou aceitando o dólar como moeda de troca então? A resposta é simples. Ela vale para todas as moedas que vigeram durante os impérios que antecederam o dos Estados Unidos. A moeda forte de uma época, bem como a língua franca utilizada em parte do mundo, é sempre a moeda e a língua da potência imperialista daquele momento histórico.
Os objetivos formais do Fundo Monetário Internacional relacionam-se à ajuda para reconstrução do sistema monetário em todo mundo. Pode prestar também auxílio aos países-membros. Quando isso acontece, ou seja, um país recorre ao FMI para um empréstimo, ele é obrigado a seguir as regras do modelo econômico neoliberal que a organização impõe.
2.Banco Mundial – Peça instituição econômica e financeira também decorrente da nova engrenagem monetária internacional estabelecida no final de 1944. Formalmente diz-se que a missão do Banco Mundial(World Bank Group, na sigla em inglês) é erradicar a extrema pobreza na humanidade diminuindo a desigualdade. Ele seria uma espécie de banco de desenvolvimento mundial, nos moldes do que temos no Brasil com o BNDES.
5.1. Clube de Paris – Fundado em 1956 na cidade que leva o seu nome, realizando uma média de dez encontros por ano e tem 22 países membros (incluindo oBrasil). Sua formação decorre de uma reunião que a Argentina aceitou fazer com seus credores na cidade de Paris;
5.2. Clube de Roma – Esse clube foi fundado em 1966 na cidade que leva o seu nome pelo industrial italiano Aurélio Peccei e pelo cientista escocês Alexander King. trata-se, na verdade,de um clube informal que reúne pessoas ilustres onde temas de política e economia internacional são debatidos;
5.3. Clube de Bildenberg – Muitos acham que esse clube até não existiria, tamanho o poder que ele reúne, realizando uma conferência anual de caráter privado, com estabelecimento datado de 1954, e que reúne em torno de 150 das pessoas mais ricas e mais influentes e poderosas do planeta. Elas integram as elites econômicas da Europa e da América anglo-saxônica. São 18 as nações membros. O nome do clube decorre do hotel em que a primeira reunião foi realizada, na cidade de Oosterbeek (Holanda). Seu objetivo, de forma clara, é promover o chamado atlantismo ou atlanticismo, para reforçar os laços entre os Estados Unidos e a Europa, bem como apoiar o capitalismo ocidental e o livre mercado. Eles não escondem que almejam uma governança Mundial. O seu conselho é composto por grandes empresas, como a IBM, a Xerox, a Shell, a Nokia, a Daimler, entre outras.
As instituições do campo da Resistência
Veremos neste campo as principais entidades e/ou instituições que se opõem, de alguma forma, ao campo Imperialista. É preciso registrar que não existe, digamos assim, uma articulação formal em todas elas, ainda que todas tenham um objetivo maior unificado. Algumas são entidades propriamente ditas, outras apenas movimentos ou articulações. O grau de consolidação de cada uma delas é bastante variável, e comento isso em cada item especificamente.
Em 2019, o Brasil deve assumir a presidência rotativa do BRICS. A China e a Rússia são os dois principais polos de poder nesta articulação internacional de países, até porque são os únicos que possuem poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A primeira cúpula do BRICS foi realizado em 16 de junho de 2009, na cidade russa de Ecaterimburgo. De lá para cá, dez encontros formarealizados. Em 2019, está prevista a realização da décimaprimeira cúpula dos BRICS, a qualacontecerá no Brasil, se não for desmarcada pelo novo governo.
Tenho a firme convicção de que o processo de derrubada da presidente Dilma começa acontecer quando da realização da cúpula dos BRICS em Fortaleza (Ceará), em julho de 2013. Fui neste evento, quando foi criado o banco de desenvolvimento dos BRICS. Um capital inicial de 100 bilhões de dólares. Essa articulação de países já não escondia mais desde Essa época a sua disposição de criar uma moeda alternativa ao dólar. Ou pelo menos estabelecer uma cesta de moedas aceitas por todos os países.
O PIB estimado destes países dos BRICS gira em torno de 18,84 trilhões de dólares. Se considerarmos o PIB da Terra em torno de 80 trilhões de dólares, significa dizer que esta articulação de apenas cinco países já representa um quarto do total do PIB do planeta. Em termos populacionais, a estimativa é que a população da Terra em 2017 fosse de 7,6 bilhões de habitantes. Dados mais atualizados mostram que esses cinco países juntos possuíam, naquele mesmo ano, um total de 3,06 bilhões de habitantes. Ou seja, 40,26% de toda a população do planeta.
Por fim, vamos falar sobre a área geográfica desses países. Se considerarmos que a superfície terrestre do nosso planeta represente hoje 510,072 milhões de quilômetros quadrados, estes cinco países juntos tomariam para si 40,105 milhões de quilômetros quadrados. Ou seja, 7,8% de toda a superfície da terra[1].
Em 1955, foi convocada a sua primeira conferência, que ocorreu na cidade de Bandung, na Indonésia. Os principais líderes desse conclave foram Sukarno –o anfitrião, Nehru – da Índia e Nasser – do Egito. A formalização do Movimento deu-se apenas em 1961, na cidade de Belgrado (Tchecoslováquia), em função da adesão do Marechal Yosip Broz Tito. Nesse mesmo evento, a China uniu-se ao bloco com a presença na Conferência de Chu En Lai.
Esse Movimento perdura até os dias atuais, mas não tem mais tanta força, até em função da unipolaridade que vivemos no mundo. Ao todo, o MPNA realizou 16 conferências de cúpula, sendo que a última delas em Havana (Cuba), em 2006. O Movimento escolhe a cada dois anos um secretário-geral. O indicado em 2016 e segue até os dias atuais é Nicolas Maduro, presidente da Venezuela[2].
A segunda sigla – OLP, significa Organização para a Libertação da Palestina. A sua fundação ocorreu em maio de 1964, a partir de uma convocação feita pela Liga dos Países Árabes. A assembleia de fundação deu-se na cidade de Jerusalém e seus estatutos foram promulgados no dia 28 de maio. Seu primeiro presidente foi Ahmad Shukairy, um advogado moderado. Yasser Arafat assumiu a liderança somente em 1969, quando o grupo Al Fatah já era a maior organização entre as dez que compõe a sua estrutura. Arafat torna-se o chefe do Estado Maior das forças revolucionárias palestinas em 1971 e, em 1973, já era o seu líder político. Em 1974,fez um pronunciamento histórico na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Chávez expande pelo continente a sua chamada revolução bolivariana, ou o seu “socialismo do século XXI”. Por mais que a grande imprensa mencione de forma unificada que se vive na Venezuela uma “ditadura” (sic), em 20 anos de governos bolivarianos na Venezuela, quase 20 eleições e/ou consultas populares foram feitas. Após a sua vitória, veio a de Evo Morales na Bolívia e Rafael Corrêa no Equador. E tantas outras. Todas inspiradas no ideal de Simon Bolívar (1783-1830), considerado o libertador da América Espanhola.
Com os governos progressistas de Chávez e Lula, foram criadas instituições como a UNASUL (União das Nações Sul-Americanas), a CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), esta última em uma clara tentativa de isolar a velha (e próEUA)OEA (Organização dos Estados Americanos). Criou-se ainda a TeleSur, a primeira rede de notícias alternativas e progressista para enfrentar os monopólios da mídia. Indicou-se a criação de um Banco do Sul e a unificação dos gasodutos no continente. Ou seja, inaugurou-se um novo ciclo desenvolvimentista no subcontinente, que influenciava outros países. É possível que a correlação de forças mude, com a maioria dos países voltando para a órbita estadunidense. Hoje, pode-se dizer que ainda resistem Cuba, a própria Venezuela, Bolívia, Uruguai, El Salvador e, mais recentemente, o México, com o novo presidente Antônio Manuel Lopes Obrador.
Como sempre temos dito, e isso já há alguns anos, vivemos uma longa transição entre um mundo unipolar para um mundo de multipolaridade. Ainda estamos longe, ao meu ver, de conquistarmos um mundo de maior equilíbrio de poder, tanto político, quanto econômico e, especialmente, militar. Nenhum país do mundo hoje, nem a grande China, consegue fazer frente ao poderio militar estadunidense. Mas não é só nesse aspecto que existe a hegemonia dos EUA. É também no campo econômico, quando ele emite a moeda que é praticamente universal, tem a língua considerada franca e mais falada como segundo idioma das pessoas, e conta com uma hegemonia cultural e ideológica que está longe de ser alterada.
Seus valores morais se espalham pelo mundo afora e penetram até em sociedades mais fechadas, como são as de religião islâmica que ainda resistem à sua ideologia. No caso do nosso Brasil, vemos isso diariamente, quando centenas de palavras inglesas invadem nosso cotidiano, nos centros de compras(shoppings centers), nos canais de televisão. A sua festa de Halloween já é o dia das bruxas, comemorado no dia 31 de outubro em nosso país em várias escolas privadas da elite do no país.
Viveremos ainda muitas idas e vindas. Agora mesmo, em nosso Brasil – e provavelmente em alguns outros países latino-americanos – viveremos imensos retrocessos civilizatórios e perda de direitos dos trabalhadores com a posse do governo reacionário e entreguista de Jair Bolsonaro. No entanto, estou convicto que a marcha inexorável da história nos levará a um caminho luminoso de um mundo de justiça e paz para os povos amantes da liberdade, e que defendem a sua soberania nacional.
* Sociólogo, professor universitário (aposentado), pesquisador, analista internacional e autor de dez livros na área de política internacional e Sociologia. É colaborador das páginas de Internet Brasil 247, Fundação Grabois, Vermelho, Resistência e Duplo Expresso.
[1]Esses dados são os mais atualizados possíveis e tiveram como fonte a enciclopédia livre e cooperada Wikipédia, cujo endereço as pessoas podem ter acesso por este link: http://pt.wikipedia.org.
[2]Informações adicionais podem ser obtidas em https://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_N%C3%A3o_Alinhado que tivemos acesso em 26 de dezembro de 2012 às 5h44.
[3]Emhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Foro_de_S%C3%A3o_Paulo, que tivemos acesso em 26 de dezembro de 2018 às 10h51, há uma riqueza imensa de informações adicionais, em especial a lista por países de todos os partidos que compõe o FSP, atribuindo-lhe inclusive a condição de “partido no governo" ou de oposição.